Notícias

UMA PEÇA DO MNAA POR SEMANA

O Centro Nacional de Cultura e o MNAA divulgam aqui algumas das peças mais significativas deste museu.

O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura. 

Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 12 a 19 de Janeiro de 2010


Relicário da Rainha D. Leonor

 

Mestre João (Johan Van Stay)
Portugal, c. 1510-1525
Ouro, esmeraldas, rubis, diamante, pérola, esmaltes polícromos e cristal de rocha
Inscrição:
MISERCORDIE . TVE . TVE . MORTIS . GRAVISSIME . DULCISSIME . DOMINE. IESV. XPE. RESPLENDOR . PATRIS . CONCEDE . NOBIS . FAMYLIS . TVIS
Prov. Mosteiro da Madre de Deus, Lisboa
Inv. 106 OUR


O relicário da rainha D. Leonor (1458-1525), como é vulgarmente conhecido, é uma peça excepcional a todos os títulos: riqueza dos materiais, qualidade de execução, elegância do desenho e significado histórico da encomenda régia, para além, naturalmente, do seu valor religioso e simbólico. Este relicário terá sido objecto de devoção especial da Rainha, figurando no seu testamento nestes termos: “Deixo ao dito moesteiro da Madre de Deus o Relicario que fez mestre Joam, em que esta o Santo Lenho da Vera Cruz, que ora anda na cruz d’ouro pequena, o Espinho da Coroa de N. Senhor Jesu Christo …, o qual relicario he todo de ouro guarnecido de certas pedras finas que estao dentro…”.


O testamento nomeia como seu autor mestre João, um dos muitos ourives estrangeiros que trabalhavam em Lisboa, de origem alemã ou flamenga e que assinava Johan Van Sta(n)y, também ele autor de uma custódia (infelizmente desaparecida) encomendada por D. Manuel I para o Mosteiro da Conceição de Beja.


O relicário, datável do 1º quartel do século XVI, em ouro esmaltado, gemas preciosas e pérolas, tem a forma de um templete renascentista e obedece a um esquema rigoroso de equilíbrio e proporção. Na parede do fundo, sobre um pequeno altar, abre-se um nicho destinado à relíquia do Espinho da Coroa de Cristo. Outros elementos decorativos ou simbólicos surgem nesta visão frontal do relicário: as gemas preciosas e uma pequenina Cruz de ouro contendo um fragmento do Santo Lenho, os dois escudetes com o Camaroeiro – emblema da Rainha – na base das colunas, e o seu Escudo de Armas, na arquivolta superior. É, de facto, uma obra-prima, tanto da colecção do museu como da ourivesaria em Portugal.


Contemporâneo das obras ditas manuelinas, o relicário, tal como a Custódia de Belém, reproduz uma requintada miniatura arquitectónica da mais pura expressão clássica, introduzindo-nos, deste modo, numa estética diametralmente oposta à do gótico final e exemplificando, assim, a coexistência numa mesma época de tendências artísticas aparentemente contraditórias.

Subscreva a nossa newsletter