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UMA PEÇA DO MNAA POR SEMANA

O CNC e o MNAA divulgam aqui algumas das peças mais significativas deste museu.

O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura. 



Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 24 de Novembro a 1 de Dezembro 
de 2009


 

S. Pedro


Francisco de Zurbarán, 1633
Óleo sobre tela
Prov. Paço Episcopal de S. Vicente de Fora, Lisboa, 1913
Inv. 1379 Pint


A apresentação conjunta das 12 telas que compõem este Apostolado de Zurbarán não é uma proposta de reconstituição do modo como se dispuseram no ambiente conventual que as terá acolhido primitivamente em Lisboa (S. Vicente de Fora), mas pretende pelo menos ensaiar a reposição do extraordinário potencial comunicativo da integridade da obra. Dispostas ao redor de uma sala, estas pinturas sugerem não só a primordial mensagem contra-reformista de unidade apostólica de uma Igreja Triunfante, como infundem uma imagem de Espanha algo diversa daquela que foi pintada por Velásquez, pintor de reis e infantas, bobos e fiandeiras. E tão poderosas figuras fundacionais da Igreja, representadas isoladamente e em tamanho natural, de gestos por vezes enfáticos, impõem certamente, desde aí, através da sua força física, uma autoridade quase realista despojada de acessórios.
Zurbarán foi capaz de investir os mais banais temas religiosos com um prodigioso sentido dos valores pictóricos da luz, que nas suas obras adquirem sempre uma conotação religiosa. E é a luz que estabelece aqui, subtilmente, uma diferença interna na vocação representativa do Apostolado. Com efeito, se em todas as telas permanece invisível a fonte que ilumina cada uma das personagens, a direcção da luz procede sempre, de modo mais ou menos oblíquo, do canto superior esquerdo da composição excepto no que se refere à representação de S. Pedro; neste caso, a luz cai verticalmente, ao centro, sobre a figura, sublinhando a pungente atitude de contrição do príncipe dos Apóstolos e conferindo à representação uma narratividade ausente das restantes telas. Na verdade, o que se encena em S. Pedro não é apenas uma presença apostólica, com atributos de martírio ou canónicos livros, mas antes um episódio de arrependimento, exemplar da humana fraqueza do fundador da igreja, aquele que triplamente negou Cristo e por isso verteu sofridas lágrimas de contrição.
S. Pedro é a única tela do conjunto assinada e datada (Fran.co de Zurbaran faciebat, 1633), as restantes apresentando significativas intervenções de colaboradores de oficina.
A encomenda não está documentada, mas os contactos de Zurbarán com a corte de Madrid, materializados na empreitada de 1634 para o Palácio do Buen Retiro, viabilizam a hipótese da intervenção de Filipe IV (III de Portugal) na vinda do Apostolado para o mosteiro dos cónegos regrantes de S. Vicente de Fora ainda durante a década de 1630.

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