Em Busca de Ideias Contemporâneas

Um processo de vai-e-vem…

Folhetim de Verão “Em Busca de Ideias Contemporâneas” – capítulo 24

Michael Walzer tem uma atitude inconformista e insiste na afirmação da necessidade de ligar o valor da singularidade e da autonomia individual com a ideia de solidariedade voluntária. Neste sentido, escreveu: “o conflito agudo que existe hoje na vida dos Estados Unidos tem a ver com o multiculturalismo contra a hegemonia da singularidade, do mesmo modo que poderia ser do pluralismo contra unidade ou de muitos contra um, e ainda do conjunto dos grupos contra o conjunto dos indivíduos, das comunidades contra o público privado. Neste conflito não podemos tomar partido por qualquer outro lado que não seja o de afirmar a legitimidade dos dois antagonismos. Estes dois pluralismos levam os Estados Unidos tal como são (ou pelo menos como hoje são) a dar o exemplo como deveriam ser. No conjunto, mas apenas no conjunto, são perfeitamente compatíveis com a cidadania comum democrática” (Dissent, Spring 1994).

Eis o ponto forte do pensador: a concretização do pluralismo e a salvaguarda da diversidade. Com efeito, as sociedades contemporâneas necessitam de singularidade e interdependência, até para garantia da coesão. Assim, Walzer reclama a renovação da vida associativa como pedra de toque da cidadania, numa sociedade em mudança. Nestes exatos termos, exprime um misto de crítica e de simpatia relativamente às atitudes comunitárias e liberais. Mas a necessidade de uma catalogação torna-se vã quando o que está em causa é a compreensão da diversidade e da complexidade. Um equilíbrio deve ser estabelecido entre instituições políticas, nas quais a separação de poderes seja respeitada e o sistema de freios e contrapesos da democracia siga o pensamento de Montesquieu.

Cada cidadão está colocado em diversas esferas de pertença, o que tem repercussões nas relações interculturais e na distribuição de bens aptos a satisfazer necessidades. Estamos, assim, perante questões diversas como as relativas à descentralização e ao associativismo (ou a subsidiariedade) que conduzem a uma dupla aceitação do pluralismo, no que respeita aos elos de pertença dos indivíduos e dos grupos. Nesta perspetiva, a noção de solidariedade (na lógica sequência da liberdade, da autonomia individual e da responsabilidade) ganha um novo sentido orientado pela “justiça complexa” enriquecida pelo pluralismo. No momento em que a exclusão toma um lugar perturbador na representatividade dos movimentos sociais ativos, torna-se fácil a compreensão da importância deste tema. O pensador contesta, porém, que cada um possa ter uma conceção incontestável de universalismo, propondo a descrição de experiências concretas de compreensão dos valores universais em diversas culturas.

Um valor ou um princípio deveria ser pensado por cada cultura para ter consistência segundo a experiência própria, para responder ao dilema entre o único e o uniforme, e o relativismo, em coerência com a cidadania comum e a diversidade cultural. Isto leva-nos ao coração das relações entre ética e política. O pluralismo exige a investigação dos valores comuns e dos interesses, e isso torna tudo mais importante, uma vez que a solidariedade requer a vontade comum dos cidadãos livres e iguais, partilhando responsabilidades civis. Isto é o que Walzer designa como “Social-democracia”, que é a regulação pública dos interesses conflituais dos indivíduos e dos grupos. Quem se esquecer dos dois lados cai numa cegueira ignorante e inútil.

O pensamento que Walzer defende está ligado à preservação do particular, com respeito do lugar, da vizinhança e do pluralismo. Deste modo, o liberalismo que M. Walzer defende associa formalmente as virtudes da separação e da partilha. A diferença reside na autonomia de diversas esferas de ação assente na ideia de respeito por todos e por cada um. Assim, chegamos ao pluralismo pela empatia e pela identificação. O universalismo dos valores éticos deve corresponder a um movimento incessante de vai-e-vem entre os grandes princípios e a sua diversidade.

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