A Vida dos Livros

UM LIVRO POR SEMANA

Agostinho da Silva nasceu há cem anos. Hoje recordamos a sua obra, na qual destacamos “Reflexão”, de 1958 e “As Aproximações”, de 1960 (Guimarães Editores). Para ele o melhor mestre era a vida, e a educação devia partir do concreto para o abstracto, ligando imaginação e rigor, finura e geometria.

UM LIVRO POR SEMANA
De 13 a 19 de Fevereiro de 2006


Agostinho da Silva nasceu há cem anos. Hoje recordamos a sua obra, na qual destacamos “Reflexão”, de 1958 e “As Aproximações”, de 1960 (Guimarães Editores). Para ele o melhor mestre era a vida, e a educação devia partir do concreto para o abstracto, ligando imaginação e rigor, finura e geometria. Como disse um dia: “impõe-se (…) uma transformação radical da nossa maneira de tratar as crianças e, sobretudo, da escola; se é a criança que sabe e pode construir o seu mundo, se é o seu factor interno de desenvolvimento o único que a pode levar a pôr as bases de uma vida psicológica sã, temos de lhe dar todas as possibilidades de se exercer, deixando-lhe a máxima liberdade; antes de tudo, como princípio essencial donde todo o resto pode provir, a criança tem de ser livre, para sem as nossas interferências, aproveitar do exterior aquilo que lhe convém”. Os actos de “despertar” e de “construir” inerentes à educação deviam, assim, assentar no respeito e na criação de espaços de orientação e de criatividade. Em vez de uma escola onde houvesse claustrofobia, urgia delinear uma escola de janelas abertas para a sociedade que a cerca. No entanto, a liberdade não pode significar “abandono”; deve partir do estímulo, como acontece com o agricultor, que ajuda as suas plantas a singrar. “Empreguemos toda a nossa energia e todo o nosso interesse pelo progresso em lhe fornecer um meio favorável”. A criança ou o educando é assim, o centro do “acto educativo”. O dever, a dignidade, a confiança são traves mestras da escola montessoriana, que tanto influenciou o pensamento de Agostinho da Silva. Afinal, as crianças e os jovens participam activamente na “conquista da sua liberdade”, no seu direito de viver “uma vida bela e forte”. Trata-se de compreender que os avanços da cultura perante a natureza só podem ocorrer se houver capacidade para revelar e para despertar a autonomia, o sentido crítico, o altruísmo e a força transformadora positiva da humanidade. E é assim que “temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar”. Tudo pode ser compreendido a partir deste entendimento, centrado na liberdade e na abertura de espírito. O valor da aprendizagem deveria estar em primeiro lugar, daí a ideia de escola como “um lugar sempre aberto onde toda a gente pudesse entrar para perguntar o que não sabia e pôr lá dentro alguma pessoa que pretendesse viver a sua vida à espera que outros lhe fossem fazer perguntas”. O despertar da educação significaria o acto de perguntar incessantemente, que é a essência da cultura. Agostinho foi sempre um incansável educador, plantador de ideias, ideador de mil projectos. “Para quê viver se não achássemos que o futuro vai trazer-nos uma solução que cure os problemas das sociedades de hoje?” Essa era a sua costela de discípulo de Vieira e de sonhador de uma “História de Futuro”…


Guilherme d’Oliveira Martins

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