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UM BOM REENCONTRO

«Amar pelos dois» de Luísa Sobral, cantado por Salvador Sobral, é um caso muito especial de encontro entre a moderna temática do cancioneiro popular norte-americano e da bossa-nova (bem como da moderna canção popular portuguesa), mas muito mais do que isso é um reencontro com a mais antiga tradição trovadoresca galaico-portuguesa.

Dir-se-ia que Amor e Amigo aqui confluem. Como Caetano Veloso disse estamos perante a língua viva. E assim Luísa Sobral no seu percurso americano e europeu redescobre a nossa lírica bem como a língua além-fronteiras.

Leia-se, repita-se:

Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois

 

A cultura é isto mesmo. Um movimento permanente de recriação e a experiência de Luísa Sobral permite um curiosíssimo reencontro com as raízes – que devemos ver nas trovas mais antigas (“Ondas do mar levado, / Se vistes o meu amado? / E aí Deus, se verrá cedo!”) até ao Cancioneiro de Garcia de Resende…

Do mesmo passo, a interpretação de Salvador reencontra a experiência dos velhos trovadores, no sentimento, na emoção e na aparente incerteza.

O que acontece em “Amar pelos Dois” não é um acaso – é um novo caminho da língua portuguesa de partida e de chegada, de encontro e reencontro!

A cultura popular e a cultura erudita casam-se, a identidade e o cosmopolitismo fundem-se!

Guilherme d’Oliveira Martins
2017-05-14
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