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Teresa Magalhães (1944-2023)

Amiga de longa data do Centro Nacional de Cultura, Teresa Magalhães é um exemplo de vitalidade, de inteligência e de alegria na sua arte. Na sua geração é um caso especial, através do qual se liga a inovação dos anos sessenta e a compreensão de um ambiente inconformista, em diálogo permanente com o cosmopolitismo anglo-saxónico.

Na sua chegada a Inglaterra procura uma identidade própria – através de uma reação contra o país cinzento. Eram os ventos da liberdade e da democracia que se faziam sentir e que Teresa Magalhães assume articulando diversas experiências figurativas e abstratas. A narrativa da singularidade era para si fundamental. Pode dizer-se que cultivou uma originalidade especial, mercê de uma síntese entre a influência Pop e uma cultura do sul, marcada pela cor e pelo carácter extrovertido!

O Centro Nacional de Cultura homenageia a grande artista, a amiga, a mulher de cultura e apresenta condolências à família e amigos. (GOM)

A Fundação Calouste Gulbenkian lamentou hoje o falecimento, em Lisboa, da pintora Teresa Magalhães, aos 79 anos, uma artista que, “a partir de um país cinzento, encheu o mundo de cor”.

Numa nota de pesar enviada à agência Lusa, a Gulbenkian recorda que a artista, nascida em 11 de março de 1944, em Lisboa, está representada na Coleção do Centro de Arte Moderna com 35 obras “que deixam ver um trabalho fundamentalmente dedicado à cor e à abstração”, em pintura, colagem e serigrafia.

A pintora Teresa Magalhães, de 79 anos, morreu na quinta-feira à tarde no Hospital de São José, em Lisboa, vítima de pneumonia.

O corpo da pintora estará em câmara ardente na Basílica da Estrela a partir das 16:00 de sábado, de onde sairá às 13:00 de domingo para cremação às 14:00 no Cemitério do Alto São João, indicou fonte da família.

A Gulbenkian lembra ainda, na nota de pesar, os primeiros anos do seu percurso, enquanto estudante finalista de Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, no final da década de 1960, e uma série de trabalhos de marcada influência pop, de revolta “contra um país cinzento”, como disse por ocasião da exposição coletiva “Pós-Pop. Fora de um lugar-comum”, realizada na Fundação Gulbenkian em 2018.

Ana Vasconcelos, curadora da exposição, sublinha que Teresa Magalhães “encheu o mundo de cor, em grandes e pequenos formatos, em figuras e em traços, riscos e manchas, explosões de alegria e movimento, com a sua força de vida contagiante que partilhou com todos com quem se cruzou e que deixa agora um pouco mais sozinhos, mas certamente mais ricos.”

A artista, que deixa uma vasta obra marcada pela pintura inicialmente figurativa e depois abstracionista, foi agraciada pela Presidência da República com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 2004.

Licenciada em pintura pela Escola Superior de Belas-Artes, em 1970, expôs pela primeira vez em Coimbra, em 1966, e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, de 1976 a 1979.

Teresa Magalhães fez parte, em 1976, do grupo 5 + 1, integrado também pelo escultor Virgílio Domingues e pelos pintores João Hogan, Júlio Pereira, Guilherme Parente e Sérgio Pombo.

Em 1990 foi comissária da Exposição “Pintoras Portuguesas do Século XX”, no Leal Senado de Macau, e, em 1996, foi convidada a realizar dois painéis de azulejos na estação de Martin Place do City Rail de Sydney, na Austrália.

Entre as várias distinções ao longo do percurso artístico, recebeu o Prémio Malhoa (1977), o Prémio Edição na III Exposição Nacional de Gravura (1981) e o Prémio Aquisição da I Bienal de Arte AIP (1984).

Realizou exposições individuais em Portugal, nomeadamente em Lisboa, Porto, Coimbra e, no estrangeiro, em Nova Iorque, Tóquio, Viena, Barcelona e Sidney, entre outras cidades.

Em Portugal, a sua obra esteve presente em mostras coletivas como a “Homenagem a Bosch” (1974), no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, a exposição do Grupo ”5+1” (1976), na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), em “Artistas Portuguesas” (1977), na SNBA e no Museu de Évora, “ARUS” (1983), no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e em “100 Anos 100 Artistas” (2001), na SNBA, entre outras.

“Um numeroso grupo de exposições coletivas e individuais, em Portugal e no Estrangeiro, contaram sempre as Histórias que vivi e inventei, e foram o testemunho mais profundo das minhas emoções”, escreveu Teresa Magalhães em 2020, num texto autobiográfico, em que recorda a infância, os estudos académicos, e percorre toda a sua vida artística.

Sobre essas exposições, Teresa Magalhães relatou: “Contaram sempre as Histórias que vivi e inventei, e foram o testemunho mais profundo das minhas emoções”.

No ano passado, Teresa Magalhães foi uma das artistas do grupo original dos 48 que participaram na reinterpretação do “Painel do Mercado do Povo” – mural pintado em 10 de junho de 1974 na Galeria de Arte Moderna, em Belém – e que foi recriado nos Jardins do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) em Lisboa.

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