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Presidente do CNC condecorado pelo Estado Francês

O Presidente do Centro Nacional de Cultura, Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, foi ontem agraciado pelo Presidente da República francês, com as insígnias de Cavaleiro da Legião de Honra.

Presidente do CNC condecorado pelo Estado Francês


  


O Presidente do Centro Nacional de Cultura, Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, foi, no passado dia 28 de Fevereiro, agraciado pelo Presidente da República francês, com as insígnias de Cavaleiro da Legião de Honra.
A cerimónia teve lugar na Embaixada de França em Lisboa e divulgamos aqui o discurso do Dr. Guilherme d’Oliveira Martins:


“Monsieur l’Ambassadeur de France
Excellences
Mes Amis


Dans les moments comme celui-ci, nous ne trouvons jamais les mots justes pour témoigner notre reconnaissance du si grand honneur qui nous est fait. Remercier sans grands adjectifs est en soi la meilleure façon d’exprimer la gratitude et de rendre hommage à une culture qui nous vient de si loin et avec laquelle le Portugal a des liens historiques qui se perdent dans les temps. Nous ne pouvons en effet parler de l’histoire et de la culture portugaise sans invoquer les racines communes et les chemins de rencontre avec la France.


Je dois un mot spécial à mon ami Monsieur l’Ambassadeur Patrick Gautrat avec qui j’ai établi une relation d’amitié et de compréhension qui ne sont pas sans doute étrangères à l’honneur qui m’est aujourd’hui conféré.


Permettez-moi un rappel du temps où j’ai commencé à étudier, au lycée Pedro Nunes, la langue et la culture françaises et je tiens à évoquer mon premier professeur, Madame Maria de Lourdes Lapas de Gusmão, sa compétence et son amour pour la France. Mais j’en appelle également aux « idées claires et distinctes » de René Descartes qui nous étaient proposées comme programme essentiel de raison et d’organisation de la vie.


Permettez-moi, dans ces brèves mots d’aborder un thème qui m’est très cher : celui de la promotion de l’enseignement et de l’apprentissage des langues étrangères dans l’éducation scolaire. Au contraire de ce que supposent certains, il nous faut promouvoir le plurilinguisme et à cet effet nous devons considérer comme une erreur la dévalorisation de l’enseignement des langues.


C’est une évidence l’émergence de l’anglais en tant que première langue de communication globale. Cependant ce qui est en cause, c’est le combat contre l’appauvrissement de la communication.


Le citoyen européen d’aujourd’hui et de demain doit connaître très bien sa langue maternelle, et savoir comprendre, s’exprimer et communiquer en au moins deux autres langues étrangères. Voilà pourquoi je me suis battu depuis longtemps pour la restauration de la deuxième langue étrangère obligatoire dans l’enseignement de base.


Le principe est clair et doit être préservé. Dans un monde et dans une société de communication et d’information, nous devons veiller à la qualité des langues car c’est ainsi que nous ferons de la diversité culturelle beaucoup plus qu’une simple somme de protectionnismes et plus qu’une tentative vaine de réduire le monde à ses clochers, où le risque du vide augmenterait exponentiellement.


Permettez-moi de saluer la présence de Madame Danièle Lamarque, représentante du Premier Président de la Cour des Comptes française, Monsieur Philippe Séguin, un ami particulier, en ce moment où la Cour des Comptes portugaise s’associe avec grand plaisir aux commémorations du Bicentenaire de l’institution créée par Napoléon Bonaparte pour garantir aux citoyens le contrôle et la responsabilisation de l’utilisation des deniers et des valeurs publics.


Nous sommes des institutions sœurs qui célèbrent aujourd’hui les deux siècles des Cours des Comptes en Europe – je ne saurais manquer de donner une importance spéciale à cette coopération et à cette solidarité au nom des valeurs de la citoyenneté et de la démocratie, à partir de l’emblématique Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen, dont l’article 15 affirme que « La société a le droit de demander compte à tout agent public de son administration ».


Je dois aussi invoquer la dimension européenne de la culture, de l’éducation et de la création au sein d’une Union d’États et de peuples libres et souverains. Je rappelle le temps où j’ai travaillé à la Commission Portugaise pour l’Unesco avec Helena Vaz da Silva. Nous avons vécu une aventure extraordinaire d’ouverture et de cosmopolitisme, au nom de valeurs de la paix et de la liberté sur lesquelles nous avons longuement réfléchi, notamment avec deux grands amis Jean-Marie Domenach, malheureusement déjà disparu, et Edgar Morin, dont la vitalité, l’intelligence et la lucidité ont ouvert des chemins très fructueux vers une culture ouverte, universaliste. Pascal, Montaigne, Chateaubriand, Tocqueville, Stendhal, Péguy, Mounier, Maritain, Teilhard de Chardin, Gabriel Marcel, Camus, Mauriac, Aron et Ricœur et tant d’autres sont des références essentielles qui ne se laisseront jamais enfermer dans une vision immédiate et particulière de la culture – ils ont ouvert des fenêtres, sans avoir jamais eu peur des effets des idées.


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Agradeço à minha família, a todos os meus amigos que me honram com a sua presença e que tiveram a amabilidade de me acompanhar neste momento de grande emoção para mim. Falei-vos de uma querida amiga, que infelizmente já não nos acompanha, e não posso esquecer ainda o meu saudoso Mestre e Professor António de Sousa Franco, com quem tantas e tantas vezes conversei sobre a importância da cultura francesa, em especial sobre a influência de muitos autores, entre os quais cito apenas André Philip e François Perroux, importantes referências num tema que nos era muito caro como o desenvolvimento económico e social.


Numa encruzilhada perturbadora e incerta, em que o futuro da União Europeia exige um novo fôlego de vontade, de determinação e de coragem – eu diria uma nova “História do Futuro” – é tempo de invocar a memória do século XX, com tragédias e lampejos prometedores, e recordar o movimento fundador impulsionado pela Declaração Schuman de 1950, para tirar lições de esperança. As circunstâncias mudaram, já não uma pequena Europa que construímos; cinquenta anos depois, precisamos de voltar a ouvir os pais fundadores. Precisamos de uma Europa de segurança e de paz, com mais União Política. Precisamos de um continente onde haja desenvolvimento sustentável e justiça, com governo económico e com coordenação de políticas de desenvolvimento. Precisamos de uma União que se baseie nas diferenças culturais, no pluralismo de pertenças e numa autêntica solidariedade voluntária.


E digo-o neste Palácio pleno de História e de espíritos, interrogando directamente a Esfinge, e desejando que se abram as portas do equilíbrio, da legitimidade e da justiça. Democracia e Europa constituem o nosso horizonte e o nosso desafio comum. Longe dos fatalismos, devemos voltar a recordar que o tempo das guerras civis europeias não deve regressar, e que o sonho de Beethoven ao escrever a dedicatória da Terceira Sinfonia deve realizar-se.


A França participa hoje connosco numa mesma Esperança, num projecto comum, de sentido universalista e aberto centrado na dignidade da pessoa humana e na vontade cívica. E recordo o que disse Joseph Rovan à saída de um dos campos de concentração em 1945: “Agora é o novo dia! Somos chamados todos a construir a Europa como obra comum!” Eis o que está em causa contra toda a desesperança, o ressentimento e a suspeita. Temos de erguer a bandeira dos interesses vitais comuns, e da legitimidade dupla dos Estados e dos povos, das nações e dos cidadãos. A lição não deve ser esquecida, num tempo em que precisamos da memória, de uma memória serena, para bater a ignorância, a indiferença e a violência.


Há um ano, em Faro, quando os responsáveis da Cultura do Conselho da Europa proclamaram o Património Cultural como um valor para a sociedade e para as pessoas, fizeram-no em nome da cultura e da paz, da liberdade e da igualdade, da dignidade e das diferenças.


É esse o espírito que invoco neste momento. “Peuple à la fois rêveur et très realiste, les Portugais ont toujours su transfigurer la necessité en passion” – assim nos definiu Eduardo Lourenço. Necessidade e paixão, vontade e futuro, eis o que nos leva a pensar o futuro não como uma quimera mas como um projecto comum…


Muito obrigado!”


GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS


Lisboa, Palácio de Santos, 28 de Fevereiro de 2007.


 


 


 


 


 


 

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