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Pátios e Vilas de Lisboa

ROTEIROS CNC / DIÁRIO ECONÓMICO


PÁTIOS E VILAS DE LISBOA


Desta vez vamos percorrer alguns recantos tão lisboetas, cuja origem se perde no tempo. Não há registo histórico do aparecimento dos primeiros pátios em Lisboa, mas sabe-se terem origem na civilização Árabe. Sendo esta uma sociedade de fortes laços comunitários, os pátios não só permitiam convivência entre vizinhos mas também, ler e ensinar o Corão num ambiente intimista. No séc. XII, aquando da conquista de Lisboa os pátios são transformados em quintas ou pequenas hortas. Lisboa era uma cidade que crescia sem planificação, para além das muralhas dispersando-se pelos vales do sopé da colina do Castelo e Alfama, com construções ao sabor das necessidades, sinais do tempo que haveriam de perdurar durante toda a Idade Média, e se prolongariam até ao Terramoto de 1755. O pátio medieval é um sucedâneo do pátio árabe, mantém os mesmos traços físico-urbanísticos e os mesmos propósitos sócio-comunitários, sendo as quintas e hortas de novo transformados em pátios.


A partir do séc. XV são vários os factores que levam ao aparecimento de novos espaços. A instalação da Corte no Terreiro do Paço altera o tecido social da colina, promovendo a deslocação dos grandes senhores constroem os seus palácios junto da Corte Real. Como consequência os pátios perdem o seu estatuto intimista para fazer parte da grande azáfama das cidades portuárias e comerciais. No entanto, é na parte mais antiga da cidade que se dão as alterações mais significativas: os pátios são ocupados por uma franja de população mais pobre, tornando-os menos próprios para habitação, aparecendo também novos tipos de pátios resultantes da ocupação de antigos pátios de palácios deixados no esquecimento.


Até ao século XX estes espaços irão funcionar como habitação assim como o próprio edifício, que por sua vez irá dar nome ao pátio. Com o surgimento da industrialização, a cidade de Lisboa recebe uma franja de população de operários. Procurando sítio para se alojarem, estas acomodações, geralmente fornecidas pelos próprios proprietários fabris, adquirem o nome de “vilas”, que não são mais que pátios da era contemporânea, normalmente constituídas por dois ou três andares separadas por uma rua e isoladas do exterior por um portão. É neste século que a devida importância é dada aos pátios como espaço social importante no meio arquitectónico português, eles são feitos de figuras reais, de tristezas e alegrias à semelhança de quem os habita, mas é, enfim, na alegria que se potencia todo o valor destes organismos vivos.


GRAÇA


Vila Sousa – localizada no Largo da Graça, 82, foi construída em 1890. O edifício de grande imponência, ocupa uma área substancial do largo e apresenta a fachada exterior decorada de azulejos. O acesso faz-se por intermédio de um portão de ferro e, no seu interior, o largo é cercado por casas contíguas de dois e quatro pisos.



Vila Sousa 


Vila Berta – localizada na Rua do Sol à Graça, trata-se de um conjunto constituído por rua larga com casas dos dois lados, proporcionando uma agradável sensação de luz e de espaço aberto. As casas, de um lado, são de dois pisos e do outro, de três pisos, com balcões de ferro. Os moradores deram-lhe um cunho bastante intimista decorando-os com plantas e flores.



Vila Berta


Vila Rodrigues – situada na Rua da Senhora da Glória, 142, a vila apresenta casas de dois e três pisos interligados por um conjunto de escadas e galerias, e amplo pátio que convida à vida comunitária.


Pátio do Barbosa – sito na Travessa das Mónicas e Calçada da Graça, fica num dos poucos edifícios que não ruíram com o terramoto – o Palácio dos Senhores da Trofa – cuja fachada principal mantém apesar de algumas transformações, o traçado do séc. XVII. O portal de entrada desemboca por um corredor sob o palácio e é sustentado por um arco de volta perfeita.


Bairro Estrela de Ouro – localizado entre a Rua da Graça e a Rua da Senhora do Monte, é tipicamente operário, tendo sido mandado construir pelo proprietário da unidade fabril, Agapito da Serra Fernandes, para acomodar os seus trabalhadores, mediante o pagamento de renda. O edifício em si é constituído por dois pisos, alguns com galeria e escadas de acesso ao exterior, sendo ainda de notar a moradia do proprietário, vivenda com espaço ajardinado, afastada convenientemente do núcleo do bairro.


Terminemos estas incursões por pátios e vilas de Lisboa nos bairros do Castelo e Alfama. O bairro de Alfama, na encosta sul da colina do Castelo, conserva a urbanização medieval de influência árabe. O termo de origem moura Alfama significa “aglomeração” ou “refúgio” ou, segundo outros especialistas, “paço do concelho mourisco”, marcando assim a sua proximidade com a antiga mesquita principal de Lisboa. Com a conquista de Lisboa em 1147, Alfama foi povoada de cristãos, tendo os habitantes mouros sido deslocados para norte. É um bairro popular, com alguns importantes edifícios religiosos e cercado de palácios, acabando nos Armazéns históricos junto ao Tejo. O terramoto de 1755 pouco o afectou, sendo uma das zonas mais pitorescas da cidade.
Vem à memória o filme de 1942 realizado por Francisco Ribeiro, O Pátio das Cantigas, no qual a vizinhança, o mexerico, os amores e desamores que espelham aspectos ligados à vivência dos pátios, contrasta de alguma forma com um certo romantismo perdido, dos novos núcleos urbanos.


CASTELO


Pátio de D. Fradique – situado na colina do Castelo, entre o Beco do Maldonado e a Travessa do Funil. Trata-se de uma dependência do antigo Palácio de Belmonte, cuja construção parece remontar ao século XV. Foi em tempos um edifício de grande imponência, embora muito do traçado original tenha sofrido alterações, quer impostas pelas ideias próprias da época quer pelo Terramoto. A entrada para o pátio processa-se através de um portal do século XVII. O pátio, é constituído por dois pisos tendo no piso superior ligação com o palácio. O piso inferior resulta da anexação das hortas existentes e é exemplo de como os espaços dos antigos palácios que povoavam esta área, foram aproveitados após a debandada da aristocracia para junto do Paço Real na Ribeira. Parte da construção é contígua a vestígios do muro da Alcáçova, e de troços significativos da Cerca Moura incluindo uma torre.


Pátio das Cozinhas – adquiriu o nome da rua que lhe dá acesso e está situado dentro do recinto da Alcáçova. Corresponde ao antigo palacete pombalino, transformado em unidade hoteleira. A área não se restringe ao palácio mas, também, aos antigos jardins. Todo o recinto está decorado com azulejos da segunda metade do séc. XVIII, sendo o muro do topo do pátio decorado com cenas bucólicas e campestres alusivas a dois santos: São Francisco de Paula e São Marçal. Nota ainda para o pavimento de seixos pretos e brancos formando motivos geométricos. Num dos muros do pátio pode ler-se uma inscrição de 1765.


 


Pátio das Cozinhas


Pátio de José Pedreira – situado na Rua de Santa Cruz do Castelo, este pátio preserva muitas características mouriscas. O recolhimento é proporcionado pelo muro alto e as casas têm ligação ao exterior através de um portão. Nada falta ao pátio, desde um poço, horta e um local para animais. A habitação parece ter sido uma antiga casa apalaçada do século XVII, embora bastante modificada, o que não implica que essa seja a data da sua formação.


Pátio da Pascácia igualmente conhecido por Pátio da Sociedade – localizado na freguesia de Santa Cruz do Castelo. O nome original deve-se a uma conhecida parteira da freguesia. O recinto pertence a uma antiga casa apalaçada do séc. XVII. Existem vestígios de traçado maneirista quer na fachada principal quer na posterior; nesta ultima, que dá acesso ao interior, podem observar-se, da época pombalina, painéis de azulejos. Encontra-se ainda uma casa de dois pisos que serve de moradia.


ALFAMA


Pátio dos Quintalinhos – a entrada é na rua das Escolas Gerais. Acede-se a ele através de um portão em ferro aberto no muro alto, mostrando a integração do pátio no edifício do nº 3 desta rua. É um local de grande significado histórico visto ter sido aí fundada a primeira universidade em Lisboa a mando do rei D.Dinis, em 1290. No interior do pátio, encontravam-se as fundações desta universidade, no entanto, poucos são os vestígios que chegaram até nós, embora tenham sido identificados e inventariados no século passado. A origem do nome não é explícita, mas poderá dever-se ao facto de terem existido na zona diversos quintais. É um local onde a discrepância entre o valor histórico e a preservação de património é gritante.



Pátio dos Quintalinhos


Pátio do Curvo – tem acesso pela rua do Paraíso. Considera-se como uma dependência do palácio que se encontra defronte e que pertenceu aos Curvos Semedos, hoje totalmente descaracterizada. Para ter acesso ao pátio é necessário envolver-se num corredor em forma de cotovelo. O interior esconde vestígios quinhentistas numa das habitações de dois pisos que possui uma escadaria em pedra.


Pátio da Cruz – este pátio é identificado por Norberto de Araújo nas suas “Peregrinações em Lisboa” como Pátio das Canas e localiza-se no coração de Alfama, na Rua da Galé (perpendicular da Rua de São Miguel junto ao Largo de S. Rafael). Trata-se de um pátio onde a singeleza domina e o popular se mistura no bairrismo de Alfama. Na verdade muitos dos ambientes pitorescos e populares de Alfama abundam nestes pátios, mas são os becos, travessas, escadinhas, largos e calçadas que completam este conjunto tão singular de Lisboa.



Pátio da Cruz

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