Em Busca de Ideias Contemporâneas

Os sete pilares da sabedoria (II)

Folhetim de Verão “Em Busca de Ideias Contemporâneas” – capítulo 13

Prosseguimos a reflexão de Edgar Morin sobre os Sete Pilares da Sabedoria.

Afrontar as Incertezas. As ciências fizeram-nos adquirir muitas certezas, mas revelaram-nos no curso do século XX inumeráveis domínios de incerteza que surgiram nas ciências físicas (microfísica, termodinâmica, cosmologia), na evolução biológica e nas ciências históricas. É preciso ensinar princípios de estratégia que permitam afrontar as incertezas e o inesperado, bem como modificar o seu desenvolvimento em virtude de informações entretanto adquiridas. É preciso aprender a navegar num oceano de incertezas, através do arquipélago das certezas. A fórmula do poeta grego Eurípedes, antiga de 25 séculos, é mais atual que nunca: “os deuses reservam-nos muitas surpresas: o esperado não acontece e eles abrem a porta ao inesperado”. O abandono das conceções deterministas da história humana, que acreditavam poder prever o nosso futuro, o exame dos grandes acontecimentos e acidentes do nosso século, todos inesperados, bem como o carácter desconhecido da aventura humana devem incitar-nos a preparar os espíritos para esperarem o surpreendente e para o enfrentarem. É necessário que todos os que têm a tarefa de ensinar se assumam nos postos avançados da incerteza do tempo.

Por outro lado, urge Ensinar a Compreensão. De facto, a compreensão é ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. Ora, a educação para a compreensão está ausente dos nossos ensinos. O planeta necessita em todos os sentidos de compreensão mútua. Sendo dada a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos, e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão exige uma reforma de mentalidades. Tal deve ser obra da educação do futuro. A compreensão mútua entre humanos, seja próximos ou estrangeiros, é vital para que as relações humanas saiam do seu estado bárbaro de incompreensão. Daí a necessidade de a estudar, nas suas raízes, modalidades e efeitos. Um tal estudo é tanto mais necessário quanto deve ater-se não aos sintomas, mas às causas dos racismos, xenofobias e desprezos. Tal constituiria uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por fundação e vocação.

Por fim, importa cultivar uma Ética do Género Humano. O ensino deve conduzir-nos a uma antropoética, pela consideração do carácter ternário da condição humana, envolvendo o indivíduo, a sociedade e a espécie. Neste sentido, a ética indivíduo / espécie necessita de um controlo mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade. Isto é a Democracia, em que a ética individuo / espécie apela no século XXI a uma cidadania terrestre. A ética não deve ser ensinada por lições de moral. Deve formar-se nos espíritos a partir da consciência do humano como parte da sociedade e parte da espécie. Trazemos connosco esta tripla realidade, todo o desenvolvimento verdadeiramente humano deve comportar o conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertença à espécie humana. A partir daí desenham-se as duas finalidades ético-políticas do novo milénio: estabelecer uma relação de controlo mútuo entre a sociedade e o individuo pela democracia, consumando a Humanidade como comunidade planetária. A aprendizagem deve contribuir não apenas para a tomada de consciência da nossa Terra-Pátria, mas também permitir que esta consciência se traduza numa vontade de realizar a cidadania terrena.

Devemos, assim, compreender os sete pilares que Edgar Morin considera numa cultura de autonomia e responsabilidade: prevenção do conhecimento contra o erro e a ilusão; ensino de métodos que permitam ver o contexto e o conjunto, em lugar do conhecimento fragmentado; o reconhecimento do elo indissolúvel entre unidade e diversidade da condição humana; aprendizagem duma identidade planetária considerando a humanidade como comunidade de destino; a exigência de apontar o inesperado e o incerto como marcas do nosso tempo; a educação para a compreensão mútua entre as pessoas, de pertenças e culturas diferentes; e o desenvolvimento de uma ética do género humano, de acordo com uma cidadania inclusiva.

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