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O EURO 2004

Pediu-me um canal de televisão desportivo que analisasse as escritas e as fotografias disponíveis da grande maioria dos 23 futebolistas que vão compor a selecção nacional que disputará o Euro 2004.

Pediu-me um canal de televisão desportivo que analisasse as escritas e as fotografias disponíveis da grande maioria dos 23 futebolistas que vão compor a selecção nacional que disputará o Euro 2004.

Fi-lo interessado em comparar duas realidades.

Por um lado em que medida o temperamento e o carácter destes homens à nascença os dotou de uma constituição física forte, mesmo atlética, capaz de suportar as confrontações violentas e os esforços físicos e psíquicos pesados e prolongados que o futebol impõe.

Por outro lado, em que medida as suas escritas revelam conflitos psíquicos de infância originadores de revoltas e rancores e correspondentes culpabilidades, capazes de os levar a assumir o desafio de os superar através do desporto, que é uma espécie de redenção desses conflitos, de fornalha ardente geradora de benefícios secundários quais sejam a liquidação da relação edipiana através de uma luta violenta entre homens, simbolicamente entre cada um deles e o respectivo pai ou os irmãos que tentam ultrapassar e superar através da conquista da fama, da glória e do dinheiro, de um lugar ao sol que os compense de todas as agruras, de todos os frios e de todos os gelos por que passaram na infância.

É essa realidade psicológica profunda que torna o espectáculo do futebol tão renovadamente fascinante e magnético, tão revelador do carácter de cada jogador e das suas susceptibilidades escondidas ou violências profundas e é por isso que atrai tamanhas multidões. Cada espectador vai projectar sobre as equipas as suas próprias reacções afectivas que culminaram nas suas próprias experiências edipianas e por isso vive de uma maneira tão arrebatada e às vezes brutal derrotas e vitórias.

Os estádios são gigantescos espelhos da condição humana, da bisexualidade psicológica estrutural de todos os humanos e até das relações dos povos entre si. Cada desafio é uma concelebração renovada das paixões básicas que se agitam em milhares de pessoas que acorrem para rever e lavar feridas antigas, ou as exacerbar ao rubro atrás de uma bola, eterno símbolo inatingível da cura psíquica projectada para o fundo das redes do inconsciente.

Alberto Vaz da Silva

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