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Nelida Piñon (1937-2022)

“É com muita saudade que homenageio uma grande amiga e colega na Academia Brasileira de Letras. É uma das grandes escritoras da língua portuguesa, que deixa uma obra inesquecível, pelo talento, pelo humor, pela inteligência e pela sensibilidade”.

A escritora Nélida Piñon, nascida no Rio de Janeiro numa família originária da Galiza, faleceu em Lisboa, tinha 85 anos e foi autora de vasta bibliografia durante mais de 60 anos. Nelida é uma grande referência da cultura em língua portuguesa, e foi a primeira mulher a ser presidente da Academia de Letras Brasileira, tendo sido também vencedora do prémio Príncipe das Astúrias. “Expoente máximo da literatura brasileira que escreveu de um modo fulgurante, expressando os sonhos de todo o Brasil e as grandes questões da literatura com a cultura e a sociedade”, segundo a editora da autora em comunicado que dá conta do desaparecimento da escritora.

“Humanista, generosa, interventiva, uma artista do pensamento, teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista, afrontou com coragem os modelos tradicionais, celebrando e escrevendo a liberdade de pensar”, acrescenta a mesma mensagem. Nélida Piñon considerava-se “devedora da história e da cultura clássica, dos gregos, mas também de Camões, de Cervantes, de Shakespeare, de Machado de Assis” que devotamente deu a conhecer ao mundo, por todos os lugares onde foi professora em grandes universidades, por todos os lugares por onde passou.

“Com humildade, disse-se brasileirinha, mas levou-nos numa viagem homérica, contando-nos os seus pensamentos sobre a leitura, a sua paixão pela escrita, a sua relação vital com a literatura, a sua visão não apenas da mulher brasileira, mas de todas as mulheres desde tempos remotos, e sobretudo a importância que a memória assume, numa viagem que simboliza todas as viagens do mundo”, escreve ainda a editora Temas e Debates. “Um Dia Chegarei a Sagres” foi a última obra da escritora brasileira. O romance aborda a aventura marítima portuguesa, e foi escrito em Portugal durante o ano de pandemia.

Afirmou em diversas circunstâncias que a língua portuguesa era a sua grande razão de viver. “Para mim é uma paixão extraordinária”. Completou 60 anos de ofício literário, de devoção impressionante à literatura. Segundo a escritora, “a literatura abriu-lhe as portas do paraíso, e ao mesmo tempo do inferno”. E completou a ideia, referindo que escrever lhe “ensinou a ser mestre de mim mesma, porque eu aceitei a mestria do mundo. 60 anos em que eu posso dizer que incluo a família, os meus amores, a minha devoção pela vida”.

“Vivi sempre (afirmou ainda) com imensa intensidade. Não me furtei de viver, não me furtei de aprender, não me furtei de amar profundamente a língua portuguesa que é a grande razão da minha vida”. 

Foi autora, entre outras obras, de “A força do destino” (1977), “A república dos sonhos” (1984), “A doce canção de Caetana” (1987), “Cortejo do Divino e outros contos escolhidos” (2001), “Vozes do deserto” (2004), “Um dia chegarei a Sagres” (2020), bem como de “Coração Andarilho” (2009), “O Livro das Horas” (2012) e “Uma Furtiva Lágrima” (2019).

O Centro Nacional de Cultura homenageia a grande amiga de Portugal.

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