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Na Rota da Água

ROTEIROS CNC / DIÁRIO ECONÓMICO


NA ROTA DA ÁGUA


A água, para uma cidade como Lisboa, foi sempre insuficiente. Este problema, arrastou-se durante muitos séculos (já na época romana existia), até se tornar gravíssimo e levar diversos reis a elaborarem diversos planos (que não foram postos em prática) para a captação de água, proveniente de diversos lugares. A primeira grande realização para resolver esta carência, iria ser o notável Aqueduto das Águas Livres que alimentava chafarizes e fontes situados em vários lugares da cidade. A sua construção ocorreu no reinado de D. João V (o Magnânimo) que concretizou diversas e arrojadas construções civis e religiosas. Apesar do monumental aqueduto setecentista, ter constituído uma obra que melhorou as condições de abastecimento de água, não foi necessário passar muito tempo para se verificar que era insuficiente. A falta de estruturas capazes de superar as deficiências neste capítulo, determinava que a distribuição domiciliária da água fosse efectuada com auxílio aos “aguadeiros” que abasteciam as casas por meio de vasilhas ou barris, cujo preço estava dependente da abundância, ou não, da água. Só a partir de 1880, é que começou a ser feito um verdadeiro abastecimento urbano e domiciliário de Lisboa com a distribuição de água vinda do rio Alviela, tendo para o efeito sido construída a Estação Elevatória dos Barbadinhos e o Aqueduto Alviela.


Museu da Água de Manuel da Maia – Formado por 4 núcleos edificados distribuídos por vários pontos da cidade, e todos eles ligados historicamente ao abastecimento de água a Lisboa: Aqueduto das Águas Livres, Mãe d´Água das Amoreiras, Patriarcal e Estação Elevatória dos Barbadinhos.


Aqueduto das Águas Livres – Foi sob proposta do Procurador da Cidade, Cláudio Gorgel do Amaral que os trabalhos se iniciaram. O arquitecto italiano António Canevari (1732) começou a obra para, pouco depois ser substituído pelos arquitectos José da Silva Pais, Manuel da Maia e Custódio José Vieira. O aqueduto inicia-se na nascente da Águas Livre, lugar conhecido pela Mãe d´Água Velha, em Caneças, e tem um comprimento de 19 km até chegar à Mãe d´Água das Amoreiras, em Lisboa. Ao longo do seu trajecto vão entroncando nele diversos troços: Caneiro, Fonte Santa, Marianos, Almarjão, Rascoeira, S. Brás, Galegos, Necessidades, Outeiro e Buraca. O Aqueduto é no seu género, o mais belo monumento ligado à água, existente no país. Ao longo da sua construção possui 109 arcos, dos quais, 35 localizados sobre o Vale de Alcântara. Sobre esta depressão o troço alcança uma extensão de 941 m e de cada lado da galeria existe uma passagem para peões (o célebre passeio dos arcos). Apresenta aqui sua faceta mais imponente, onde 14 daqueles arcos são ogivais, tendo o maior (central), a considerável altura de 65 m e de largura 29 m. Por baixo passa a Avenida Calouste Gulbenkian. No último tramo do aqueduto, também de grande valor arquitectónico, surge, após um ângulo recto, o Arco das Amoreiras, e depois de uma série de 10 arcos, a Casa da Água ou Mãe d´Água. Este troço final teve como director entre 1745 e 1756, Carlos Mardel. O Arco das Amoreiras, constitui uma secção terminal com um arco trinufal e duas inscrições a comemorar a chegada da água a Lisboa, em 1748.


Mãe d´Água – No exterior é decorada com três belos painéis de azulejos setecentistas, que faziam parte da Igreja de S. Lourenço de Carnide. A Casa da Água apresenta uma configuração quadrangular toda em pedra, com um corpo saliente na fachada principal, onde se situa o acesso feito por duas escadas dispostas simetricamente. O tanque, no interior do edifício, tem de comprimento 28,7 m, de largura 24,5 m e de profundidade 8,7 m. Este reservatório, no lado da parede donde jorra a água, mostra um conjunto escultórico onde se destaca a figura de Neptuno.Posteriormente, foi fechada na parte superior por uma abóbada de tijolo assente sobre maciços pilares, trabalho concluído em 1834. Entre dois arcos próximos da Mãe d´Água, encontra-se encaixada a Capela de Nossa Senhora de Monserrate, que já existia no local e que no interior exibe painéis de azulejos alusivos à entrada das águas livres na cidade.


Patriarcal – O projecto deste reservatório, data de 1856, e deve-se ao engenheiro francês Mary, tendo a sua construção ocorrido entre 1860 e 1864. Inicialmente recebia as águas do Aqueduto das Águas Livres. Foi na época o mais importante tanque no sistema de distribuição de água à parte baixa da cidade. É uma imponente cisterna em pedra, numa cota de 67 m, localizada no subsolo da Praça do Príncipe Real. A sua planta é octogonal e a abóbada em pedra é sustentada por arcos que repousam sobre numerosos pilares com alturas superiores a 9m. O encerramento do reservatório foi efectuado em meados do século XX. O seu agradável espaço interior, está actualmente disponível ao público, após trabalhos de recuperação devidos ao arqº Varandas Monteiro, tendo sido criadas passagens ou estrados metálicos que circundam a construção subterrânea e ligam os diversos pilares a meio da sua altura.


Estação Elevatória dos Barbadinhos – Situa-se na antiga estação elevatória a vapor dos Barbadinhos. Trata-se do aproveitamento de um espaço que testemunha todo um complexo industrial do último quartel do período de oitocentos, e que permitiu, na época, fazer face às necessidades urgentes de aumento de abastecimento de água à cidade de Lisboa. A estação elevatória, foi inaugurada a 3 de Outubro de 1880 e permitia que as águas vindas do rio Alviela, fossem para os reservatórios da Verónica e da Penha de França e dali seguissem para os reservatórios do Arco e de Campo de Ourique, para depois serem distribuídas para os pontos altos da cidade. O excelente estado de conservação de toda a maquinaria do complexo e o significado histórico e sociológico que representa para a cidade de Lisboa, explicam a razão da criação deste museu. Actualmente, no programa deste espaço cultural é possível assistir ao funcionamento das máquinas a vapor, podendo observar-se nas suas salas toda a série de componentes em actividade. A arquitectura do próprio edifício característica da Revolução Industrial, merece atenção, designadamente, a fachada e a alta chaminé, para evacuação do vapor; ou ainda, pormenores ligados ao trabalho do ferro, como é o caso das escadas situadas no interior, em ferro fundido e a decoração que enche uma grande janela na fachada posterior da estação elevatória.



Estação Elevatória dos Barbadinhos

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