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Lygia Fagundes Telles (1923-2022)

Morreu a escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, informou a Academia Brasileira de Letras. Faleceu aos 98 anos, em São Paulo.

Autora de “Ciranda de Pedra”, de “Verão no Aquário”, de “As Meninas” e “As Horas Nuas”, Prémio Camões em 2005 e membro da Academia Brasileira de Letras, Lygia Fagundes Telles é uma das grandes referências da cultura de língua portuguesa.

Em sua homenagem deixamos um depoimento de António Alçada Baptista, que bem demonstra a relevância do seu legado:

“Dizer umas palavras para Lygia Fagundes Telles faz-me lembrar que tirámos uma fotografia quando éramos “pequenos”, fotografia e que cá ficam para os meus filhos depois de fazerem o que lhes apetecer. Creio que foi a primeira vez que a Lygia vinha a Portugal. Eu acho que não tinha ido ainda ao Brasil mas houve um grupo de escritores que a recebeu e que lhe ofereceu um jantar. Esta fotografia foi tirada aí. Eu já tinha lido alguns livros dela e, como tenho dito, nunca fiz diferença entre escritores portugueses e brasileiros porque acho que todos são escritores de língua portuguesa. Sei que já vem desse tempo a minha admiração por ela, pela intimidade com que ela nos consegue revelar a vida, o amor e o tempo e que, ao revelar-se nos dá conta de uma sensibilidade apuradíssima e uma rigorosa arte de escrever. Foi desde aí que ficámos amigos. Sempre que vou a S. Paulo temos maneiras de nos encontrar porque ela está sempre presente nas tais manifestações de língua portuguesa. A sua amizade mais me prende ainda àquele país que acho que também é meu”.

Esta a melhor homenagem que devemos à grande amiga de Portugal.   


NOTAS BIOGRÁFICAS

Nascida em 1923, em São Paulo, Lygia Fagundes Telles era considerada um dos nomes maiores da literatura brasileira, tendo recebido dezenas de prémios ao longo da carreira, entre os quais o Prémio Camões.

Lygia Fagundes Telles venceu o Prémio Camões em 2005, tendo recebido o galardão numa sessão solene na Fundação de Serralves, no Porto, por ocasião da VIII Cimeira Luso-Brasileira.

Na ocasião, afirmou à Lusa que o prémio foi “a colheita de uma grande e antiga plantação” a que se vinha “dedicando com paciência, esperança e paixão”.

Assumiu-se como “uma escritora do terceiro mundo, atenta às desigualdades”, empenhada em “ajudar o leitor” através dos seus livros, garantindo procurar “dar ao leitor o consolo e o amor” e defendendo que “a salvação está na arte”.

Tem publicadas várias obras, entre romances e contos, entre os quais “As meninas”, “Histórias de mistério”, “Verão no aquário” e “Seminário dos ratos”.

De acordo com a academia brasileira, a década de 1970 foi de intensa atividade literária da romancista e marcou o início da consagração na carreira, tendo publicado alguns dos seus livros mais reconhecidos.

Na década seguinte publicou “A Disciplina do Amor” (1980), que recebeu o Prémio Jabuti e o Prémio da Associação Paulista de Críticos de Arte, tendo o romance “As Horas Nuas” (1989) recebido o Prémio Pedro Nava de Melhor Livro do Ano.

Entre os romances galardoados encontram-se ainda “A Noite Escura e Mais Eu (1995)”, que recebeu o Prémio Arthur Azevedo da Biblioteca Nacional, o Prémio Jabuti e o Prémio APLUB de Literatura e os textos do livro “Invenção e Memória” (2000), que receberam o Prémio Jabuti, APCA e o “Golfinho de Ouro”.

Lygia Fagundes Telles trabalhou como Procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu até à reforma.

Foi também presidente da Cinemateca Brasileira e era da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou a escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, , considerando-a uma “personalidade cativante” e uma “amiga de sempre de Portugal e dos portugueses”.

“Romancista, contista, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, vencedora dos prémios Camões e Jabuti, entre dezenas de outros galardões, e distinguida também com a Ordem do Infante D. Henrique, Lygia Fagundes Telles era uma das autoras brasileiras mais admiradas no Brasil e em Portugal”, lê-se numa mensagem colocada no portal da presidência na Internet.

Marcelo Rebelo de Sousa lembra que a escritora “escreveu sobre as relações humanas, sobre pais e filhos, a condição das mulheres, a ditadura brasileira, em livros como “As Meninas” (1973), por vezes num registo fantástico ou veemente, outras vezes com um realismo discreto e subtil”.

Lygia Fagundes Telles “conviveu com várias gerações da intelectualidade brasileira, desde a geração dos modernistas de 22, e interessou-se em especial pelo cinema, tendo sido presidente da Cinemateca Brasileira, instituição fundada pelo seu marido Paulo Emílio Salles Gomes”, acrescenta.

Agora que nos deixou, à beira de completar 99 anos, presto homenagem à grande escritora, à personalidade cativante e à amiga de sempre de Portugal e dos portugueses”, conclui o chefe de Estado português.


por Lusa e Renascença | 3 de abril de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença 

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