Como habitualmente nesta época do ano, o Centro Nacional de Cultura escolheu um conjunto de livros, que aconselhamos como boas leituras. A ordem é aleatória e não corresponde a uma hierarquia.

“As Mais Belas Histórias Portuguesas de Natal”
Escolhidas por Vasco Graça Moura
Edição: Quetzal
Textos de:
Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, José Maria de Andrade Ferreira, Dom João da Câmara, Abel Acácio Almeida Botelho, Filaho de Almeida, Brito Camacho, Raul Brandão, Júlio Brandão, Carlos Malheiro Dias, Aquilino Ribeiro, Pina de Morais, Ferreira de Castro, João Araújo Correia, Vitorino Nemésio, José Régio, José Rodrigues Miguéis, Tomaz de Figueiredo, Josão Gaspar Simões, Domingos Monteiro, Miguel Torga, Manuel da Fonseca, Alves Redol, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Namora, Jorge de Sena, Maria Judite de Carvalho, Natália Nunes, José Saramgo, Urbano Tavares Ridrigues, Alexandre O’Neill, Maria Ondina Braga, Isabel da Nóbrega, Graça Pina de Morais, Altino do Tojal e José Eduardo Agualusa.

“O Fim dos Estados Unidos da América” de Gonçalo M. Tavares.
Edição: Relógio d’Água
O Fim dos Estados Unidos da América é uma epopeia, satírica e
distópica, que começa com a enigmática entrada da peste nos Estados
Unidos da América.
Ted Trash,
fascista, extremista de direita, e Left Wing, extremista de esquerda,
serão os responsáveis por uma segunda guerra civil no país. Pobres e
ricos terão problemas entre si, e não serão poucos.
No meio disto está Bloom, o herói da epopeia, que terá um destino
terrível, mas tentará, até ao m, salvar a América, tendo sempre na
cabeça a imagem de uma bela mulher, a mexicana La Rosa, que um dia
conheceu num estádio.
São várias as
personagens desta epopeia. Johnston Bonne, engenheiro informático,
maluco em absoluto, anarquista, tentará com processos alquímicos, e
alguns fumos e festas exuberantes, ajudar o país. Jonathan & Mary,
ativistas, no meio de tendas e algum nudismo, tentarão até à última
lutar pelas suas utopias. Tirésias, profeta cego, fará oráculos
decisivos. O Dr. Robert, cientista, amigo de Bloom, tentará, com o seu
racionalismo, e por vezes com Deus a ser chamado, uma solução. James, o
coveiro, exercerá a sua função de forma exemplar, e Mack Morris, um
adorador de nuvens, andará por lá, nem sempre a olhar para cima. Moscas
tsé-tsé, borboletas e búfalos entrarão também, com diferentes papéis,
nesta epopeia. Esta é uma tragédia greco-americana. Pensamentos e ações,
se os Deuses quiserem, estarão, portanto, presentes.

“A Montanha” de José Luís Peixoto
Edição: Quetzal
Este é o aguardado regresso de José Luís Peixoto ao romance, depois de Almoço de Domingo: vidas que enfrentam a fragilidade.
Este
é um romance habitado por homens e mulheres de várias idades, com
origem em diversos contextos, de Moçambique à Venezuela, de Ponte de
Lima a Oliveira de Azeméis, que têm em comum a sua condição de pacientes
no Instituto Português de Oncologia do Porto. Um escritor viaja pelo
mundo e, nesse turbilhão, tenta construir um romance com todas as
histórias que lhe foram confiadas, até que o impensável acontece.
Do hiper-realismo, documental e autobiográfico, ao surrealismo, à alucinação e ao delírio, A Montanha
é um romance de enorme ambição, que resgata momentos de profunda
empatia e ternura, que revela o ser humano tanto na sua fragilidade como
na sua máxima força. Surpreendente nas múltiplas dimensões que propõe,
este romance é um extraordinário tour de force literário, um
marco muito alto na obra de um dos mais importantes escritores
portugueses contemporâneos e, sem dúvida, uma referência inesquecível
na bagagem de qualquer leitor.

“Imaginação – Cores, Deuses, Viagens e Amores” de Francisco Louçã
Edição: Bertrand
Um verdadeiro tratado sobre a importância da imaginação e do imaginário na história da humanidade.
Poder-se-ia perguntar, como Shakespeare sugeriu em Sonho de Uma Noite de Verão,
se a vida é uma tensão entre o que imaginamos – com a nossa cultura e
as nossas paixões – e o que entendemos. Tem havido quem argumente que a
imaginação é um voo condenável, um devaneio; outras opiniões concluem,
pelo contrário, que não se pensa, sente ou aprende sem imaginar.
Haverá, então, além da fria razão a que o Sonho se referia, uma
essência humana que nasce do impulso da criatividade?
Francisco
Louçã procura responder a essa questão através de uma viagem pela
cultura humana. Partindo do conceito de que a imaginação é a essência
humana, o autor leva-nos numa jornada multidisciplinar pelas
realizações da humanidade que têm na sua génese a imaginação, que é,
por sua vez, produtora de imaginário (o conjunto de imagens que a nossa
imaginação gera e projeta).
Nesta
viagem visitamos o desejo das cores imaginadas por artistas como Bosch,
Gauguin, Van Gogh, Manet, e escritores como Shakespeare ou Cervantes,
entre muitos outros, e o seu impacto artístico, social, político,
histórico… Encontramos a imaginação no cerne da cosmogonia, da visão do
Além, da experiência de Deus; vemos a imaginação na base da criação de
outros mundos e dos seus habitantes, o que levou o ser humano em busca
de novas terras. Por fim, vemos o desejo como o resultado de uma
projeção, uma imaginação de prazer, do corpo do outro, do amor e também
da culpa.

“Um Espião em Privado – As Cartas de John le Carré” de John le Carré
Edição: Dom Quixote
John le Carré foi um escritor marcante do seu tempo. Esta cativante
recolha de cartas – escritas a leitores, editores, realizadores e atores
cinematográficos, políticos e figuras públicas – revela o homem
divertidamente inteligente e inabalavelmente eloquente por detrás do
pseudónimo.
Um Espião em Privado
abrange sete décadas e narra não só a vida de le Carré, como os tempos
turbulentos de que foi testemunha. Iniciando-se com a sua infância, na
década de 1940, contém relatos do período em que foi funcionário
público, da sua passagem por Oxford e dos tempos em que foi professor
em Eton de «lordes ingleses de nariz afilado, sem queixo e de olhos de
groselha».
Descreve a sua entrada
no MI5, o surgimento da Cortina de Ferro e o florescimento da sua
carreira como romancista reagindo à construção do Muro de Berlim.
Através das suas cartas, viajamos com ele do período que vai da Segunda
Guerra Mundial até à atualidade.
Vemos
le Carré a escrever a Sir Alec Guinness para o persuadir a aceitar o
papel de George Smiley e, mais tarde, a discutir a imoralidade da
guerra contra o terrorismo com o chefe do serviço de segurança interna
alemão. O que emerge é um retrato, não apenas do escritor, ou do
intelectual em termos globais, mas sim, segundo as suas próprias
palavras, do homem muito privado, muito apaixonado e muito real por
detrás do nome.
Inclui cartas a:
John Banville · William Burroughs · John Cheever · Stephen Fry · Graham
Greene · Sir Alec Guinness · Hugh Laurie · Ben Macintyre · Ian McEwan ·
Gary Oldman · Philip Roth · Philippe Sands · Sir Tom Stoppard ·
Margaret Thatcher · e muitos mais…

“O Louco de Deus no Fim do Mundo” de Javier Cercas
Edição: Porto Editora
«Sou ateu. Sou anticlerical. Sou um laicista militante, um racionalista obstinado, um ímpio inveterado. Mas aqui estou, viajando em direção à Mongólia com o velho vigário de Cristo na Terra, disposto a interrogá-lo acerca da ressurreição da carne e da vida eterna. Foi para isso que embarquei neste avião: para perguntar ao Papa Francisco se a minha mãe verá o meu pai depois da morte e para lhe levar a sua resposta. Eis um louco sem Deus perseguindo o louco de Deus até ao fim do mundo.»
Este é o brilhante início de um livro único que nunca pôde ser escrito, pois o Vaticano jamais abriu as suas portas de par em par a um escritor. Mas, além de singular, este é um livro de plenitude, em que o autor consegue transformar uma proposta invulgar numa história magistral: um thriller sobre o maior mistério da história da humanidade.
Com O Louco de Deus no Fim do Mundo, Javier Cercas regressa à sua linha mais pessoal, conseguindo relacionar as suas obsessões íntimas com uma das preocupações fundamentais da sociedade de hoje: o papel do espiritual e do transcendente na vida humana, o lugar nela ocupado pela religião e a ânsia de imortalidade.

“O Esplendor das Amizades: A experiência portuguesa de Edgar Morin” de Edgar Morin e António Alçada Baptista
Edição: Gradiva
Esta edição da Gradiva, que se enquadra nas celebrações dos 80 anos do Centro Nacional de Cultura, resulta da vontade do grande pensador de recordar, numa vida plena, a importância da relação com Portugal, em especial com António Alçada Baptista e os seus amigos. Numa obra de uma vida, extensa e multifacetada, a relação com a democracia portuguesa tem especial importância no seu pensamento, designadamente na dimensão cívica e educativa.

“Herscht 07769” de László Krasznahorkai
Edição: Cavalo de Ferro
Florian Herscht, gigante meigo e ingénuo, visto pelos habitantes de Kana como o idiota da aldeia, está convencido de que o mundo se aproxima do fim. É sobre o perigo de uma catástrofe iminente que escreve cartas obsessivas à chanceler Angela Merkel. Além disso, trabalha numa empresa de lavagem de paredes sob a alçada de Boss, o líder de um grupo neonazi local e fanático por Johann Sebastian Bach.
Com a ajuda do seu pelotão e de Florian, Boss está empenhado em apanhar o artista que anda a conspurcar com grafitis de cabeças de lobo vários monumentos dedicados ao compositor alemão naquela pequena cidade esquecida da Turíngia Oriental. O caos instala-se quando lobos verdadeiros são avistados na zona…
Sátira devastadora e profética sobre a desintegração social e o colapso ecológico, o nacionalismo e o globalismo, e a linha ténue que separa a civilização da barbárie, Herscht 07769 é o grande romance sobre a Europa do século XXI, escrito numa única frase vertiginosa e no estilo inconfundível do mestre húngaro László Krasznahorkai.

“A Rota do Ouro – Como a Índia Antiga transformou o mundo” de William Dalrymple
Edição: Dom Quixote
Durante um milénio e meio, a Índia exportou a sua civilização diversificada e criou à sua volta um vasto império de ideias. A arte indiana, as religiões, a tecnologia, a astronomia, a música, a dança, a literatura, a matemática e a mitologia cruzaram o mundo ao longo de uma Rota do Ouro, que se estendia do Mar Vermelho ao Oceano Pacífico.
Em A Rota do Ouro William Dalrymple recorre a uma vida inteira de estudo para realçar a posição, frequentemente esquecida, da Índia enquanto coração da antiga Eurásia. Pela primeira vez, dá um nome a esta difusão das ideias indianas que alteraram o rumo da História. do maior templo hindu em Angkor Wat ao budismo da China, do comércio que ajudou a financiar o Império Romano à invenção dos números que usamos na atualidade (incluindo o zero), a Índia marcou a cultura e a tecnologia não só do mundo antigo, como também do mundo de hoje.

“Memórias das Montanhas Distantes” de Orhan Pamuk
Edição: Presença
Há vários anos que Orhan Pamuk escreve e desenha diariamente. Regista os acontecimentos do dia, anota reflexões, dialoga com as personagens dos seus romances… As semanas, os meses e os anos passam, e o autor retoma, completa e desenha incessantemente as páginas que ficaram em branco, entrelaçando textos e desenhos.
Pela primeira vez, o escritor que sonhava tornar-se pintor abre o seu mundo mais íntimo e revela os seus cadernos através de uma seleção pessoal feita entre milhares de páginas. Um objeto belo por si só, um encontro fascinante com a arte, a cultura e as inspirações de uma das vozes mais importantes da literatura.

“Revolução – A Construção da Democracia Portuguesa” de Maria Inácia Rezola
Edição: Dom Quixote
Muito se tem escrito sobre o 25 de Abril de 1974 e o nascimento da democracia portuguesa. No entanto, passados 50 anos, a memória da Revolução continua a suscitar debates intensos, entre celebrações entusiásticas, leituras críticas e até condenatórias, como o demonstra a recente controvérsia em torno do 25 de Novembro. Neste contexto, torna-se imperioso regressar à história, compreender o papel dos militares, dos políticos e da sociedade civil e revisitar as escolhas, os dilemas e as esperanças de um tempo decisivo. Este livro oferece ao leitor uma perspetiva rigorosa e acessível, revelando a complexidade do processo revolucionário e a riqueza de um legado que continua a marcar a vida democrática em Portugal.

“Bíblia – Volume VI” de Frederico Lourenço
Edição: Quetzal
O sexto e último volume da Bíblia na tradução da Quetzal contém os cinco
livros do Pentateuco: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronómio. O arco narrativo começa com a criação do mundo e termina
com a chegada do povo israelita à terra prometida, após a escravidão no
Egito. Os temas que o Pentateuco propõe aos seus leitores tocam o mais
profundo que existe na experiência humana do Divino.
As
ações desenrolam-se diante dos nossos olhos, protagonizadas por Adão,
Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão e seus descendentes, até ao momento em que
a propulsão da narrativa é assumida por Moisés. Mas sobretudo é o Deus
de Israel que se revela o verdadeiro protagonista do Pentateuco: Deus
criador, Deus das alianças com o Seu povo, Deus que dita a Sua lei.
Fruto
de um processo de composição que representa o culminar de diferentes
tradições em Israel, o Pentateuco não é somente um texto de enorme
profundidade teológica, mas constitui também um fascinante objeto de
estudo do ponto de vista crítico-histórico. As notas e comentários de
Frederico Lourenço procuram encaminhar os leitores na exploração deste
segundo aspeto, que se afigura fundamental para uma compreensão mais
completa da Bíblia.

“Para os Caminhantes Tudo é Caminho” de José Tolentino Mendonça
Edição: Quetzal
Chegará o momento em que compreenderemos que sabedoria é amar tudo. É saudar os dias sem esquecer a importância das horas; contemplar as grandes torrentes sem deixar de agradecer cada gota de orvalho; estimar o pão sem, no entanto, esquecer o sabor das migalhas. Chegará a ocasião de compreender que o importante não é só contar a viagem, mas testemunhar também o contributo dos passos; elogiar não só a meta, mas a lição de cada etapa, sobretudo quando chegámos a duvidar que o caminho conduzisse a alguma parte. Chegará o tempo em que nos reconheceremos saciados tanto pela frescura da fonte, como pela sede; iluminados pela experiência dos encontros, mas também pelo ensurdecedor vazio de certas esperas; maravilhados, de igual maneira, com o alforge repleto e as mãos sem nada.

“Obra Poética III” de António Ramos Rosa
Edição: Assírio & Alvim
Num esforço começado em 2018, aqui se encerra a publicação dos livros de poesia éditos de António Ramos Rosa. E se chegados a este terceiro volume nos assustar as quase três mil páginas somadas de poemas, melhor é seguir o conselho de Rosa Maria Martelo, no posfácio aqui reservado: o de ler Ramos Rosa in media res, ou constelarmente, percorrendo a sua «maiêutica interna» ou questionamento ativo, tentando com ele responder aos muitos problemas que a sua poesia sempre levantou ou mais humildemente, parece-nos, com ele questionarmos a raiz do discurso e das coisas.

“Dobra” de Adília Lopes
Edição: Assírio & Alvim
Dobra reúne todos os livros de poesia de Adília Lopes. Como consequência, a nova edição que agora se apresenta foi ampliada e passa a incluir toda a obra poética publicada da autora, até maio de 2023. Edição encadernada.

“O Deus dos Nossos Pais” de Aldo Cazzullo
Edição: Presença
Os nossos pais estavam convencidos de que viviam sob o olhar de Deus e
de que a Sua existência era tão certa como o nascer e o pôr do sol.
Hoje, temos menos certezas ou deixámos de pensar nisso… a Bíblia deixou
de ser lida. E, assim, tantos desconhecem o livro maravilho que é.
Desconhecem como pode ser lida como um grande romance. Desconhecem até
as histórias fascinantes que contém e como estão mais próximas de nós do
que imaginamos.
A criação, Adão e
Eva, a expulsão do Éden, Caim e Abel, Noé e o dilúvio. A história de
Jacó, que lutou com Deus, e de José, que revelou os sonhos do faraó.
Moisés, as pragas do Egito, a travessia do Mar Vermelho, os Dez
Mandamentos. e depois a conquista da Terra Prometida; Josué, que
expulsa Jericó; David, que corta a cabeça de Golias; Sansão, o herói
forte, mas traído pelo seu amor; Salomão a erguer o templo. Sem
esquecer as grandes mulheres da Bíblia: Judite, que corta a cabeça do
chefe inimigo; Ester, que salva o povo do extermínio. Passando por
anjos, como o que salva Tobias, e por demónios, como o que atormenta
Job. Vivendo o amor do Cântico dos Cânticos e a desilusão do
Eclesiastes, até à grande esperança da ressurreição e de um salvador que
vem redimir a humanidade: para os cristãos, Jesus.
Esta
é a viagem para que Aldo Cazzullo nos convida e que nos transporta às
raízes da nossa cultura, oferecendo uma visão iluminadora e emocionada
sobre a condição humana e a busca de sentido no mundo moderno.

“A Legião Estrangeira” de Clarice Lispector
Edição: Companhia das Letras
Este livro reúne treze contos e mais de uma centena de crónicas, ensaios, textos híbridos. Sob o holofote da escrita inigualável de Clarice Lispector, desfilam o aborrecimento quotidiano, o estranhamento do mundo, o enigma da criação artística e uma fundacional solidão.
De Os Desastres de Sofia» ou «O Ovo e a Galinha a Instantâneo de uma Senhora ou Uma imagem de prazer, a legião estrangeira reconstrói ideias sobre erotismo, velhice, laços de amizade, preceitos sociais, valores de família, ligações perigosas.
Com este volume, recuperamos a edição original de a legião estrangeira, conforme organizada pela autora em 1964, e até agora inédita em Portugal. Aqui encontramos a escrita vívida de Clarice, infundida de alguma tristeza e algum humor, que diverte e perturba, mas que sobretudo espanta.

“Meu Abrigo, Minha Tempestade” de Arundhati Roy
Edição: Asa
Nestas páginas, a minha mãe, a minha gângster, viverá. Ela era o meu abrigo e a minha tempestade.
Destroçada pela morte da mãe em setembro de 2022, mas também intrigada e bastante envergonhada pela intensidade da sua reação, Arundhati Roy decidiu dar um sentido às suas emoções em relação à mulher de quem fugiu aos dezoito anos, “não por não a amar, mas para poder continuar a amá-la”. Assim começa este surpreendente, por vezes perturbador, mas também inesperadamente divertido relato da vida da autora desde a infância em Kerala, na Índia, até aos dias de hoje.
Com a profundidade dos seus romances e a paixão dos seus ensaios, Meu Abrigo, Minha Tempestade é uma ode à liberdade, uma homenagem aos amores difíceis e à singular ferocidade dos espíritos verdadeiramente livres.

“Inteligência Vital, Estupidez Artificial” de Alexandre Castro Caldas
Edição: Contraponto
Numa época em que tanto se fala de inteligência artificial, impõe-se uma questão prévia: mas o que é a inteligência? O conceito tem sido objeto de definições e interpretações diversas – tantas quantos os especialistas que sobre ela se debruçaram.
Neste livro, o prestigiado neurologista Alexandre Castro Caldas dá a conhecer a evolução do conceito ao longo dos séculos e apresenta a inteligência como uma capacidade não exclusiva dos seres humanos, mas própria dos seres vivos em geral, ainda que com expressões diferentes de espécie para espécie.

“Pontas Soltas II – Espaço, Arte, Liberdade” de José Gil e Ana Godinho
Edição: Relógio d’Água
Como trazer o infinito à finitude, como compor um pouco de ordem com o caos que nos cerca e angustia, como construir estabilidade e segurança sem perder a liberdade? Velhos dilemas que julgámos resolver com encarnações divinas, contemplações de Ideias eternas, fusões místicas ou figuras do homem nu, simplesmente humano, fundando a igualdade política e a equidade da justiça. Ícones tradicionais que reaparecem agora, ameaçados ou reactivados por toda a espécie de fundamentalismos. Sob eles corre uma torrente subterrânea de pensamento a formar-se, com outros conceitos, outra força, outra maneira de pensar. Convém, pois, trazê-la à superfície. Conceitos que se expandem e complicam, de Descartes a Deleuze, de Fra Angelico a Francis Bacon: espaço do corpo, liberdade ecológica, diagrama, agenciamentos vitais, devires não humanos, encontros fortuitos sem sujeito. E, depois, a Terra, corroída e poderosa, com lugares por entre os quais o pintor, ou cada um de nós, pode esgueirar-se e refazer-se com os elementos cósmicos da luz, das cores e das sombras, e fazer nascer a vida no espaço qualquer.

“Cartas de Jharia” de António M. Rebordão Montalvo
Edição: Astrolábio
Subitamente, a dez metros de nós, uma mulher saltou para a pira funerária do marido e ficou a arder com o seu cadáver.
Vendo aquele salto inesperado, Katherine lançou um grito e escondeu, horrorizada, a cara sob o lenço branco que lhe cobria o cabelo.
Desejei naquele momento que minha mãe não tivesse presenciado um sacrifício tão pungente como aquele.
O senhor Kamadeva segredou-me:
— É o sati — prática de que eu já ouvira falar.
Explicou-nos que a morte pelo sati surgira há mais de 700 anos, numa época em que os homens morriam nas batalhas e as suas mulheres não queriam ser levadas pelos vencedores.
A noite caiu sem que toda a pira tivesse ardido e nenhum de nós abandonou a margem do rio.
Dificilmente se encontrarão no mundo imagens tão impressionantes como as daquelas piras a incendiar a noite escura, iluminando com as suas labaredas as águas sagradas do Ganges.

“Sem Remorsos”, de André Pinto Bessa
Edição: Book Link
Intrigas familiares, paixões proibidas, manobras palacianas, jogos de poder e os grandes acontecimentos históricos e diplomáticos da viragem para o século XX são o pano de fundo deste romance. A trama centra-se na família Noronha da velha nobreza agrícola que luta contra a perda de poder e riqueza. A revolução industrial e a ascensão de uma nova classe provocam a gradual erosão do prestígio desta que foi uma das famílias mais influentes da Beira.
Debate-se agora com crises, adultérios, ambições frustradas, rivalidades, enquanto o País enfrenta o Ultimato, a dívida, as lutas entre os partidos, as ameaças ao império, a ditadura, a Intentona do Elevador e o regicídio. Partem em busca de novos horizontes. Em Londres são bem recebidos pela aristocracia inglesa e em Nova Iorque pelos meios financeiros. Mas em Paris e no Rio encontram desconfiança e marginalização. Um misterioso crime força a fuga precipitada e um dilema familiar.
A morte da Rainha Victoria, a Revolta da Armada no Brasil, o Pânico de 1907 são acontecimentos marcantes no início do século XX que os Noronha vivem com intensidade. Instabilidade política, decadência das elites, invejas partidárias, ganância e venalidade. Será que avançámos muito, passados 120 anos…


