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Lançamento do livro “Ver é Ser Visto. Fragmentos Essenciais”, de Eduardo Lourenço

A obra será apresentada no dia 29 de junho, pelas 18 horas, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa. O lançamento contará com as intervenções de José Carlos Vasconcelos, de Guilherme d’Oliveira Martins e do Editor.

Antologia dos principais textos de uns dos mais marcantes pensadores da cultura portuguesa do século XX falecido no final de 2020, Ver é ser Visto de Eduardo Lourenço reúne ensaios dedicados às principais questões e autores sobres os quais Eduardo Lourenço refletiu. Com prefácio de José Tolentino Mendonça, a obra que agora a Gradiva lança (editora que tem vindo a reunir e a publicar toda a produção ensaística do autor) resulta de um trabalho de seleção de Guilherme d’Oliveira Martins, um profundo conhecedor da obra do ensaísta e um dos seus amigos mais próximos.

«Os textos que constituem a presente escolha procuram abranger momentos importantes do percurso do  autor, começando pela definição da atitude independente e heterodoxa e pela referência fundadora da relação com a Europa e com o diálogo que então nos faltava (1949), colocando essa reflexão na continuidade de quantos portugueses recusaram fechar-se dentro das fronteiras, desde os renascentistas aos românticos, como Garrett e Herculano, até à complexa atitude de Antero de Quental e da sua geração, de quem se sentiu tão próximo sempre.

E nesta linha repensa Portugal (num contexto existencial), interpreta a conferência de Antero sobre as «Causas da Decadência», interroga Oliveira Martins, analisa criticamente o papel dos mitos, desconstrói a saudade e o sebastianismo, encontra-se com Camões enquanto referência cultural, e mergulha numa reflexão sobre Fernando Pessoa. A existência mítica e os caminhos vários que abre foram uma preocupação permanente do ensaísta, em busca da diversidade, da porta aberta, do melting pot português, das aventuras e desventuras migrantes, do País entre a realidade e o sonho, da língua projetada universalmente. Mas o sentido crítico, sempre muito agudo, levaria à reflexão sobre a Europa desencantada.

E, por fim, nesta recolha é ainda possível encontrar a relação pessoalíssima do ensaísta com a poesia. Hölderlin diria «o que permanece / os poetas o fundam». A amizade com Carlos de Oliveira obriga a explicações sobre «o sentido e a forma da poesia neorrealista», a crítica e a metacrítica aprofundam a atitude criadora do autor, Camões é símbolo da nossa cultura e Antero revela a tensão essencial (bem presente neste ensaísmo) entre o pensamento e a utopia.

Eduardo Prado Coelho falou de uma nostalgia da unidade e do absoluto em Eduardo Lourenço. Num texto inédito de 1954, publicado pela revista Relâmpago (n.o 22, 4 – 2008) («Ísis ou a Inteligência»), o ensaísta diz: «a mitologia é a verdade dispersa, túnica rasgada de um deus morto a quem só podemos ressuscitar juntando com paciência piedosa todos os pedaços. Essa tarefa é superior às nossas forças». É essa interrogação permanente sobre os mitos que nos revela uma das facetas mais originais do autor. Se bem virmos, é a desconstrução de mitos, como a saudade e o sebastianismo, ou como os excessos contraditórios sobre a nossa identidade, que permite avançar no sentido de uma ideia de emancipação individual ou coletiva.»

O AUTOR

EDUARDO LOURENÇO (1923-2020) nasceu a 23 de Maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, na Guarda. Filho mais velho (de sete) de Abílio de Faria, oficial do Exército, e de Maria de Jesus Lourenço, frequenta a Escola Primária na sua terra natal. Depois ingressa no Liceu da Guarda e termina os seus estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Frequenta o Curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde conclui a Licenciatura com uma Dissertação com o título “O Sentido da Dialética no Idealismo Absoluto. Primeira parte”.

Assume as funções de Professor Assistente nessa Universidade, cargo que desempenha até 1953. Desde então e até 1958 exerce as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier. Nos anos de 1958 e 1959, rege, na qualidade de Professor Convidado, a disciplina de Filosofia na Universidade Federal da Baía (Brasil). Ocupa depois o lugar de Leitor a cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice. Nesta última Universidade irá desempenhar posteriormente as funções de Maître-Assistant, cargo que manterá até à sua jubilação no ano letivo de 1988-1989.

Publica, em edição de autor, o seu primeiro livro Heterodoxia I em novembro de 1949. Casa com Annie Salomon em 1954. Em 1966, nasce o seu filho adotivo, Gil. Ao seu livro Pessoa Revisitado – Leitura Estruturante do Drama em Gente é atribuído o Prémio Casa da Imprensa (1974). Em 10 de Junho de 1981, é condecorado com a Ordem de Sant’Iago d’Espada. Pelo seu livro Poesia e Metafísica recebe, no ano de 1984, o Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho. Dois anos mais tarde, é distinguido com o Prémio Nacional da Crítica graças a Fernando, Rei da nossa Baviera. Por ocasião da publicação da sua obra Nós e a Europa – ou as duas razões, é galardoado com o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, que distingue o conjunto da sua obra. Dirige, a partir do Inverno de 1988, a revista Finisterra – Revista de Reflexão e Crítica. É nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal em Roma. É condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial). Recebe, no dia 1 de julho de 1992, o Prémio António Sérgio. Participa no Parlamento Internacional de Escritores que decorre entre 28 e 30 de setembro de 1994 em Lisboa. Pela sua obra O Canto do Signo recebeu em 1995 o Prémio D. Dinis de Ensaio.

Nos últimos anos, Eduardo Lourenço recebeu inúmeras distinções, entre as quais se destacam: Prémio Camões (1996), Officier de l’Ordre de Mérite pelo Governo francês (1996), Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres pelo Governo francês (2000), Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (2001), Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2001), Cavaleiro da Legião de Honra (2002), Prémio da Latinidade (2003), Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2003), Prémio Extremadura a la Creación (2006), Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008), Medalha de Ouro da Cidade da Guarda (2008) e Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil pelo Rei de Espanha (2009).

Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995), Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e Universidade de Bolonha (2006).

Exercia desde 2002 as funções de administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

Foi galardoado com o Prémio Pessoa 2011 e ainda com o Prémio Vida e Obra (Sociedade Portuguesa de Autores) a que se sucederam, entre outros, o Prémio Universidade de Lisboa (2012), o Prémio Jacinto do Prado Coelho (2013) e o Prémio Vasco Graça Moura (2016).

Entrada Livre
(limitada a 21 lugares com inscrição prévia para rel_publicas@bnportugal.gov.pt)

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