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JÚLIO RESENDE: O DESENHO COMO VIDA.

A sua biografia fala por si. Júlio Resende foi um dos mais prolíferos e ricos autores portugueses do século XX.

JÚLIO RESENDE: O DESENHO COMO VIDA.



Foto Pedro Rios – JPN.


A sua biografia fala por si. Júlio Resende foi um dos mais prolíferos e ricos autores portugueses do século XX. Nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917. De 1930 a 1936, executa ilustrações e banda desenhada para jornais e publicações infantis, realizando cuidada aprendizagem do desenho e da pintura na Academia Silva Porto. Pode dizer-se que é um pioneiro da banda desenhada portuguesa, com seu irmão António, sendo uma indiscutível referência maior. A sua principal produção encontra-se em «O Papagaio» com Tic-Tac (1936) e em «O Primeiro de Janeiro» com Matulinho e Matulão (1942). Frequenta a Escola de Belas-Artes do Porto e é discípulo de Dórdio Gomes (1937). Participa em 1943 na organização do “Grupo dos Independentes” e realiza a primeira exposição individual no Salão Silva Porto. Exerce docência no ensino secundário nos anos quarenta, concluindo em 1945 o Curso na Escola de Belas-Artes com a pintura “Os Fantoches”. Então visita o Museu do Prado, encontrando-se em Madrid com Vasquez Diaz. Obtém os prémios da Academia Nacional e “Armando de Bastos”. Obtém em 1946 uma bolsa de estudo no estrangeiro do “Instituto Para a Alta Cultura”. Realiza a primeira exposição em Lisboa. Em1947e 1948, estuda as técnicas de fresco e gravura na Escola de Belas-Artes de Paris. É discípulo de Duco de La Haix. Na Academia Grande Chaumière recebe lições de Othon Friesz. Frequenta o Museu do Louvre, onde procura inspirar-se nos grandes mestres. Visita os museus da Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália. Em 1949, encontramo-lo como Professor na pequena escola de cerâmica de Viana do Alentejo Tem contactos com o escritor Virgílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua. Em Lisboa conhece Almada Negreiros e Eduardo Viana. Realiza uma primeira viagem à Noruega onde é hóspede de Oddvard Straume. Permanece em Orstavik. No ano de 1951 fixa-se no Porto, mantendo atividade docente no ensino secundário. A gente do mar passa a constituir tema dominante da pintura. Recebe o Prémio Especial na Bienal de S. Paulo. Em 1952 obtém o prémio na 7ª Exposição Contemporânea dos Artistas do Norte. Permanece um mês na Noruega. Executa o fresco da Escola Gomes Teixeira no Porto. Investiga o desenho infantil. Em 1953, cria as “Missões Internacionais de Arte”, a primeira das quais ocorre em Trás-os-Montes. Leciona na Escola Secundária da Póvoa de Varzim (1954). No ano seguinte, promove a 2ª “Missão Internacional de Arte”, na Póvoa de Varzim. Em 1956, integra a equipa com o Arq. João Andersen (irmão de Sophia de Mello Breyner) para o projeto “Mar Novo” para Sagres que obtém o Primeiro Prémio em concurso internacional. Apesar do prémio o regime político não executa o extraordinário monumento destinado a Sagres. Sophia escreverá o magnífico livro de poemas com o título “Mar Novo”, que não é mais do que uma expressão riquíssima de um grito de revolta perante um crime de lesa-cultura. A obra de Júlio Resende neste projeto é emblemática e constitui referência fundamental da história da arte portuguesa. O êxito do pintor prossegue, obtendo o Prémio “Artistas de Hoje”, Lisboa e concluindo o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra. Em 1957, organiza a exposição “4 Artistas Portugueses” em Oslo e Helsínquia. Obtém o 2º prémio de Pintura da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. No ano de 1958 executa um painel para a “Exposição Universal de Bruxelas”. Ganha o prémio “Columbano” da Câmara Municipal de Almada, promove a 3ª “Missão Internacional de Arte” na cidade de Évora. É convidado para a docência na Escola de Belas-Artes do Porto. Executa vários painéis de azulejo para a estação de fronteira de Vilar Formoso. Tem a Menção Honrosa na 5ª Bienal de S. Paulo. Cria dois painéis cerâmicos para o Hospital de S. João no Porto. Executa oito painéis de azulejo para a pousada de Miranda do Douro. Alcança em 1960 o prémio “Diogo de Macedo” no Salão de Arte Moderna do SNBA em Lisboa. Realiza o painel cerâmico para a Pousada de Bragança. Presta provas públicas, em 1962, com distinção na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Realiza o mural afresco no Palácio de Justiça do Porto, executa cinco painéis cerâmicos para obras de arquitectura. Cria cenários e figurinos para o “Auto da Índia” de Gil Vicente, encenação de Carlos Avilez para o TEP, Porto (1965). Realiza um fresco para o Tribunal de Justiça em Anadia (1966). Cria os cenários e figurinos para “Fedra” de Racine, encenação de Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais (1967). Ilustra “Aparição” de Virgílio Ferreira. Realiza cenário e figurinos para o bailado “Judas”, coreografia de Águeda Sena para a Fundação Calouste Gulbenkian. Ganha o prémio “Artes Gráficas” na Bienal de Artes de S. Paulo, com as ilustrações do romance “Aparição” (1969). Cria cenários e figurinos para o “Auto da Alma” de Gil Vicente no TEP, Porto. Realiza seis painéis em grés para o Palácio de Justiça de Lisboa. Orienta o visual estético do Espetáculo de Portugal na “Exposição Mundial de Osaka” (1970). Cria cenários e figurinos para “Antígona” no Teatro Experimental de Cascais. Realiza a primeira viagem ao Brasil encontrando-se com Jorge Amado e Mário Cravo Filho. É nomeado Membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, Bruxelas. Ilustra a obra de Fernando Namora “Retalhos da Vida de um Médico” (1973). Nova viagem ao Brasil. Recebe o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada. Em 1974, exerce funções de gestão na ESBAP, a que se dedicará a tempo inteiro nos anos seguintes. Realiza cenário para o filme “Cântico Final” de Manuel Guimarães, adaptação do romance de Virgílio Ferreira. Em 1977 empreende uma memorável viagem ao Nordeste Brasileiro, encontrando-se com os artistas como Sérgio Lemos e Francisco Brennand. Em 1978 cria os cenários e figurinos para o bailado “Canto de Amor e Morte” coreografia de Patrick Hurde, inspirado na obra musical de Fernando Lopes Graça para a Companhia Nacional de Bailado. Entretanto, realiza uma importante visita de estudo às Faculdades de Belas-Artes de Espanha. Em 1981, executa os vitrais para a Igreja Nª Sª da Boavista, Porto. Viaja até a Pernambuco e Salvador da Bahia. Profere uma significativa palestra na Fundação Joaquim Nabuco no Recife. Recebe as insígnias de Comendador de “Mérito Civil de Espanha” atribuídas pelo Rei de Espanha (1982). Em1984 realiza o célebre painel mural “Ribeira Negra”. E em 1985 é-lhe atribuído o Prémio AICA. Executa em grés o grande mural “Ribeira Negra” no Porto (1986). Em 1987, profere a última lição na ESBAP. Em 1989 tem lugar a Exposição retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Viaja em 1992 a S. Vicente e Stº Antão (Cabo Verde). Cria em 1993 o “Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende”. Realiza em 1994 e 1995 painéis cerâmicos para a estação do Metropolitano de Lisboa, “Sete Rios”. Em 1996 visita a Goa e no ano seguinte Santiago e Fogo (Cabo-Verde). Recebe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Visita em 1999 a Ilha de Moçambique. O Centro Nacional de Cultura contou sempre com Júlio Resende entre os seus amigos especiais, desde os anos cinquenta. Ilustrador de Sophia de Mello Breyner em «O Rapaz de Bronze» e «Noite de Natal» foi um raro intérprete da arte em todas as suas dimensões. Que melhor homenagem poderemos fazer-lhe, se não lembrar a sua humanidade e o seu talento!


Guilherme d’Oliveira Martins

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