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João Paes (1928-2021)

O Centro Nacional de Cultura homenageia a memória de João Paes sempre um grande amigo, presença indispensável ao longo de muitas décadas. Foi um participante ativo nas iniciativas do CNC, em especial ligadas à Música e às Artes. A sua ação é inesquecível, designadamente nos Amigos de S. Carlos. Apresentamos sentidas condolências à família e amigos.


Notas Biográficas:

Compositor, musicólogo, antigo diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos, autor da música de filmes de Manoel de Oliveira e crítico de ópera do Público nos anos 1990, morreu esta quarta-feira. Tinha 93 anos.

Distinguido pela composição de Os Canibais, o “filme-ópera” de Manoel de Oliveira, João Paes foi também diretor da antiga Rádio Cultura (atual Antena 2), presidente da Juventude Musical Portuguesa e responsável pela programação musical da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, na área da música erudita.

João Carlos de Freitas Branco Paes nasceu em Lisboa, em 19 de Janeiro de 1928, formou-se em Engenharia Eletrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico, e privilegiou sempre a atividade no campo da música, tendo sido aluno de composição de Joly Braga Santos (1924-1988), por sua vez um discípulo de seu tio, o compositor Luiz de Freitas Branco (1890-1955).

Foi diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos, entre 1974 e 1981, tendo aberto o palco do teatro lírico a óperas contemporâneas do século XX, como Lulu, de Alban Berg, Billy Budd, de Benjamin Britten, Os Diabos de Loudun, de Krzysztof Penderecki, e Elegy for Young Lovers, de Hans Werner Henze.

Promoveu igualmente a estreia de produções operáticas portuguesas como Canto da Ocidental Praia, de António Victorino d’Almeida, em 1975, Em Nome da Paz, de Álvaro Cassuto, em 1978, e a Trilogia das Barcas, de Joly Braga Santos, em 1979.

Como compositor, destaca-se em particular o trabalho de João Paes como autor de música original para filmes de Manoel de Oliveira como Benilde ou a Virgem Mãe (1974), Amor de Perdição (1976-1978), Francisca (1980), Le Soulier de Satin (1984-1985), O Meu Caso (1986) e Os Canibais (1987), a ópera que dedicou ao realizador, que este transpôs para cinema e pela qual recebeu o prémio de melhor banda sonora, no Festival Internacional de Sitges, em Espanha.

A relação com Manoel de Oliveira, que o Dicionário do Cinema Português define de “uma fidelidade e simbiose singulares”, colocou igualmente João Paes como consultor musical do cineasta, em filmes como O Passado e o Presente (1971).

Na área do cinema, João Paes também fez crítica, durante a década de 1960, para a revista O Tempo e o Modo e para Jornal de Letras e Artes. Mais tarde, na década de 1990, escreveu no PÚBLICO, onde foi um dos principais colunistas como crítico de música e, em particular, de ópera.

Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Washington, a partir de 1982, durante essa década foi também fundador da Orquestra Régie-Sinfonia, diretor de programação musical da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, membro do Conselho Nacional de Cultura, de 1994 a 1998, e presidente ou membro do júri de concursos internacionais de Canto, Composição e Direção de Orquestra, em concursos realizados em Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça.

Quando em meados de 1990 assumiu a direção da Rádio Cultura – designação da Antena 2 durante a sua gestão, que manteve durante dois anos -, João Paes somava perto de três décadas de atividade na rádio portuguesa, tanto na produção e realização, como no trabalho de expansão da rede de emissores e retransmissores, para a cobertura do país.

A partir dos anos de 1960, foi responsável por programas como Três séculos de ópera, A ópera do século XX, O anel de Wagner nos Festivais de Bayreuth, Shakespeare e a música, Debussy e o Simbolismo. Na sua ação, quer como diretor do teatro lírico português e da “rádio clássica” nacional, quer como programador, conferencista ou autor de programas, teve sempre como objetivo a divulgação musical, a sensibilização para os diferentes repertórios e a procura de novos públicos.

No Teatro de São Carlos tomou a iniciativa de promover os ensaios gerais de portas abertas e de realizar sessões comentadas, em colaboração com a Juventude Musical Portuguesa, no contexto dos “ciclos de música viva”. Foi também durante a sua direção que este teatro acolheu o pianista Bill Evans, num concerto histórico do compositor de Waltz for Debby, acompanhado pelo contrabaixista Eddie Gomez, em 1975, que foi igualmente o primeiro concerto deste teatro na área do jazz.

“O que pretendemos é chamar o público jovem a concertos, óperas, ou seja ao que for, a tudo aquilo que represente uma cultura musical viva”, disse, numa entrevista de 1973, à revista da Juventude Musical Portuguesa.

João Paes era neto do matemático e antigo Presidente português Sidónio Paes e também sobrinho do maestro Pedro de Freitas Branco (1896-1963). Era tio do compositor e pianista Bernardo Sassetti (1970-2012).

por Lusa e Público | 11 de novembro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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