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(IV) O Românico Português

Uma lenda prodigiosa com origem em escritos de Atanásio de Saragoça coloca Braga em primeiro lugar na rota das pregações de S. Tiago aos povos das Espanhas e atribui ao apóstolo a ressuscitação do “primeiro” bispo bracarense, S. Pedro de Rates. Pode dizer-se, assim, que a Sé de Braga é referência do românico português. Sob a influência de Santiago de Compostela, a Sé de Braga encontra-se adaptada à função metropolita na região de Entre Douro e Minho, albergando o primaciado das Espanhas. Não se trata, porém de um templo de peregrinação. É uma igreja de três naves, com transepto, cabeceira com a capela-mor e absidíolos. A construção do edifício que conhecemos iniciou-se no século XI, sobre as bases de um anterior templo. O portal principal é do século XII como alterações dos séculos XV e XVI. Aqui se encontram os túmulos do Conde D. Henrique e de D. Teresa. Está ligado à Sé de Braga o episódio conhecido como “pio latrocínio”. De facto, em 1102, o poderoso bispo de Compostela Diogo Gelmires levou de Braga, pela calada da noite, num verdadeiro assalto, as relíquias do bispo bracarense S. Frutuoso e dos mártires S. Silvestre, S. Cucufate e Santa Susana. Tal atitude, algo comum no período medieval, teve como justificação a necessidade de dar às relíquias devida adoração em Santiago de Compostela, já que esse era o lugar de afluência de peregrinos de toda a Europa. Contudo foi sempre contestada, só tendo sido reparada em 1966 e 1993, regressando então as relíquias a Braga. O românico de Braga irradiou para toda a região de Entre Douro e Minho, sobretudo nos elementos decorativos e na simplicidade de estilo – sendo exemplos: Travanca, Pombeiro, S. Pedro de Rates, Paço de Sousa, Roriz, Cete e Fonte Arcada.

A Sé do Porto é outro exemplo marcante do românico português. O início da sua construção data da primeira metade do século XII, sofrendo o primeiro edifício muitas alterações ao longo dos séculos. Do estilo original restam o carácter geral da fachada, com as torres e a imponente rosácea além do corpo da igreja de três naves coberto por uma abóbada de canhão sustentada por arcobotantes. Trata-se de um dos primeiros templos portugueses dotados desse elemento arquitetónico.

Outros exemplos do românico português são: a Domus Municipalis de Bragança (século XII) na arquitetura civil ainda que de utilização incerta; e a Sé Velha de Coimbra (século XII), com a estrutura essencial preservada, apesar de muitas intervenções de diversas épocas. É originalmente típica do românico português com três naves, tendo a central abóbada de berço, transepto pouco pronunciado e cabeceira de abside e absidíolos semicirculares. A escultura dos capitéis é a mais representativa do românico em Portugal. Na Sé Coimbra está sepultado o Conde moçárabe Sesnando Davidis (séc. XI). Coimbra liga-se à Sé Catedral de Lisboa, que lhe é posterior, tendo os mestres Roberto e Bernardo trabalhado em ambas em meados do século XII. Em Lisboa há mais um tramo e torres, tendo arcos e pilares num românico mais evoluído. Na Estremadura encontramos outros exemplos como S. João de Alporão em Santarém, ainda que na transição para o gótico, bem como S. Pedro de Leiria e Santa Maria de Alcácer do Sal (1217).

Refira-se ainda a criação da “Rota do Românico um percurso constituído por 58 monumentos localizados em Entre Douro e Minho junto aos rios Sousa, Douro e Tâmega. Inclui mosteiros, igrejas e memoriais, pontes, castelos e torres que têm em comum a arquitetura românica caraterística desta região. No seu conjunto, situa-se no centro dum triângulo cujos vértices são Património da Humanidade: o Porto, Guimarães e o Vale do Douro. A Rota do Românico divide-se em 3 rotas que se ligam entre si, seguindo os vales dos rios:Vale do Sousa com 19 monumentos; Vale do Tâmega com 25 monumentos; e Vale do Douro, sensivelmente entre Castelo de Paiva e Resende, com 14 monumentos. O românico português de linhas simples e austeras congrega as diversas influências de uma história peninsular rica de encontros e de múltiplas origens, envolvendo a presença germânica, cristã, muçulmana, moçárabe, expressão viva de um rico cadinho onde o levante e o ocidente se encontram.

GOM

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