O CNC propõe uma viagem aos locais de memória dos portugueses por São Tomé de Meliapor, Paliacate, Tuticurim, Coulão, Calicute, Cranganor e Cochim, acompanhados pelo Dr. Anísio Franco.
Como é habitual nestas viagens, pretendemos levar, além dos sócios e amigos que se inscreverem, um escritor e um artista convidados com a finalidade de fazer um registo da viagem (Diário de Viagem) e de estabelecer relações institucionais no domínio cultural que possam prolongar-se para o futuro, prosseguindo os objetivos deste ciclo de viagens criado em 1985 por Helena Vaz da Silva com o objetivo de “trazer o nosso passado para o nosso presente”.
Da Costa do Coromandel à Costa do Malabar
por Anísio Franco
Quando se fala da presença dos portugueses na Índia, fala-se, antes de tudo, na cristianização dessas paragens longínquas. Para além da abertura de uma nova rota, que facilitava o transporte de pessoas e bens entre o mar Índico e a Europa, o que os portugueses estabeleceram foram laços culturais, que passaram, acima de tudo, por deixar marcas da cultura cristã em todas as costas indianas.
Uma das demandas mais interessantes, sempre presente nos discursos dos missionários que para a Índia seguiram, era a busca dos vestígios deixados pelo Apóstolo São Tomé, que segundo a tradição teria iniciado a cristianização do subcontinente indiano e por lá fora martirizado.
Os “cristãos de São Tomé” espalhavam-se ao longo da costa do sul do Malabar até ao Coromandel onde se encontrava o túmulo do próprio apóstolo. Tal ideia é divulgada por Damião de Goios na Chrónica do Felicíssimo Rei D. Manuel: “Estes costumes e crenças têm todos os cristãos que há desde Cranganor até Chormandel e Mailapur, onde jaz enterrado o Apóstolo São Tomé que pregou a Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo a estes de Cranganor e aos de Coulão e primeiro que a estes aos da ilha de Cocotorá como eles têm por suas lendas e livros autênticos.”
Fossem estes cristãos do rito nestoriano mais tarde obrigados a submeter-se ao padroado português, com sede em Goa, o que importa é que eles deram um sinal de esperança à possibilidade de cristianizar das terras entre o Malabar e o Coromandel. De facto, uma complexa teia de interesses, tanto comerciais como militares e políticos, estabeleceu-se entre as duas costas com especial enfoque para Cochim e São Tomé de Meliapor.
É no caminho dessa teia de relações, hoje apenas delatável pela presença de inúmeras igrejas de rito católico, com origem na passagem dos portugueses por esses lugares, que a nossa viagem se fará. Na verdade, uma aventura que poucos compatriotas nossos tentaram, mas que “Os portugueses ao encontro da sua História” com Centro Nacional de Cultura irão, com certeza, levar a bom porto.