Crónicas de Viagem - MYANMAR E TAILÂNDIA

Monges de Amarapura – Crónica VII

Maravilhosas fotografias as que pudemos ontem ver de Arracão. Helena Serra enviou-as e pudemos perceber como o bairro português representa a lembrança de uma encruzilhada de culturas e experiências. Com indumentária local Luís Filipe Thomaz fez questão de explicar, com a vivacidade habitual, desde a placidez e a persistência de Frei Sebastião Manrique, cronista fundamental das rotas que ele mesmo trilhou até aos confins deste labirinto entre Bengala e Pegu, passando pela intensa atividade de mercenários e mercadores, à sombra ou distantes do Império de Portugal, como melhor lhes conviesse.

A monção chuvosa persiste, deixando tudo coberto de água. Aliás, uma providencial aberta na chuvada permitiu a visita ao templo de Shitaung, onde todos se puderam deslumbrar com as representações pictóricas da vida de Buda e a presença de 80 mil estátuas de budas – o que deu pano para mangas para L. F. Thomaz explicar longamente a especificidade do budismo «Teravada». Neste não pode haver salvação divina ou perdão de um karma, uma vez que, segundo “o ensino dos sábios”, é um processo puramente impessoal, que faz parte do Universo.

Depois de recordarmos a magníficas fotografias de Arracão, voltemos à manhã de hoje, dia 4, em que continuamos a falar e a gozar do deslumbramento de Bagan.

Os templos de Thatbyinnyu e de Gwadawpalin são dos mais impressionantes da antiga capital do Império. Ambos são do século XII, sendo o segundo posterior de cerca de trinta anos em relação ao primeiro, representando este a omnisciência de Buda e possuindo quatro terraços a que pode aceder por uma estreita escadaria. No caso do segundo, o andar térreo tem diversas representações de Buda, com grande requinte artístico, e a escadaria estreita conduz a uma sala superior…

O almoço no Hotel antecede a partida para Mandalai, com paragem em Amarapura e no Lago Taungthaman, onde se encontra a maior ponte de teca do mundo, a celebérrima U Bein.
A ponte tem 1,2 quilómetros, foi construída cerca de 1850, e hoje apesar do seu valor patrimonial apresenta algumas preocupações pelo mau estado de alguns dos 1086 pilares, que tiveram de ser reforçados com cimento. Recorde-se que a teca é nativa da Ásia, das florestas tropicais de monção do sudoeste asiático (Mianmar, Tailândia, Índia e Laos) apresentando uma especial resistência à extrema pluviosidade e à construção de embarcações resistentes.

Amarapura significa em sânscrito «Cidade da Imortalidade». Apesar desse sentido foi uma das capitais da Birmânia durante um período muito curto, pelas razões já referidas de que a cidade principal dependia da decisão de cada monarca. Esta pequena cidade teve a sua glória entre os anos de 1783 e 1857, momento em que Mandalai se tornou a capital da Birmânia. Ainda hoje há reminiscências da atividade artesanal em algodão e seda, em que Amarapura se tornou célebre. Em cada casa há antigos teares que lembram a velha tradição de feitura dos tecidos com que são feitas as indumentárias tradicionais, entre as quais os célebres sarongs (lunguis), além de instrumentos para feitura de sinos, tambores, representações de Buda e outros objetos de culto ou recordação…

Em Amarapura temos o Pagode de Kyauktawgyi, do século XIX e o Mosteiro Mahagandhayon, que atrai muitos turistas e curiosos, sobretudo a meio da manhã, quando os monges vem buscar os seus alimentos, formando uma impressionante fila constituída por hábitos amarelo-alaranjados…
Mas a viagem terminará por hoje na cidade de Mandalai, onde o Hotel Mandalay Hill recebe o grupo para um descanso retemperador.

Guilherme d’Oliveira Martins

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