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Eduardo Pitta (1949-2023)

O poeta Eduardo Pitta morreu aos 73 anos, tendo pugnado pela importância de uma literatura ‘gay’.

O poeta foi ensaísta e crítico, nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, a 9 de agosto de 1949, tendo vivido em Moçambique até novembro de 1975. Começou a escrever em 1967 e a colaborar assiduamente em suplementos literários de jornais (Notícias, A Tribuna, A Voz de Moçambique e Notícias da Beira), mas foi em 1974 que publicou a sua primeira obra, o livro de poesia “Sílaba a sílaba”. Contudo, foi em Portugal que a sua obra atingiu a maturidade, primeiro como poeta, depois como ensaísta e crítico de poesia, e mais tarde como ficcionista, estreando-se com a trilogia de contos “Persona” (2000). Estes contos expõem o lado oculto da guerra colonial, com a singularidade, nas letras portuguesas, de articular o universo colonial moçambicano com a prática de uma identidade ‘gay’ como epítome da decadência do Império. Eduardo Pitta publicou dez livros de poesia, um romance, duas coletâneas de contos, quatro volumes de ensaio e crítica, duas recolhas de crónicas, dois diários de viagem e o livro de memórias “Um Rapaz a Arder” (2013). Em 2003, publicou o ensaio “Fratura” (2003), sobre homossexualidade na literatura portuguesa contemporânea. Em 2019, Eduardo Pitta revelou que continuava a pensar exatamente o mesmo e que reconhecia nos outros autores falta de coragem, alertando mesmo para a existência de uma “regressão conservadora” nas novas gerações. Naquele mesmo ano, Eduardo Pitta participou numa palestra na Feira do Livro do Porto, na qual abordou este tema, a partir da questão “A literatura portuguesa continua no armário?”, assinalando que a ficção ‘gay’ portuguesa estava praticamente circunscrita aos seus livros e a algumas obras de Frederico Lourenço e Guilherme de Melo. Identificado com a geração dos anos de 1970, o seu estilo de escrita tem sido classificado como violento e cortante, com uma visão pulsional e agreste da existência, de ritmo acelerado e cariz autobiográfico, e com narrador centrado na identidade sexual do sujeito.Em 2010, Eduardo Pitta casou-se com Jorge Neves, seu companheiro desde 1972. Manteve, desde 2005, o blogue Da Literatura, cuja última entrada data de 04 de abril de 2022. Em 2021, foi o escritor homenageado na Alvalade Capital da Leitura, ano em que publicou a sua última obra, o livro de contos Leitura, ano em que publicou a sua última obra, o livro de contos “Devastação”. Os seus poemas encontram-se traduzidos em inglês, castelhano, italiano, francês e hebraico. Tem poemas, contos e ensaios dispersos por revistas literárias de Portugal, Reino Unido, Brasil, Colômbia, Espanha, França e Estados Unidos. Eduardo Pitta estava internado numa unidade de cuidados continuados, em Torres Vedras, devido a complicações de saúde, em consequência de AVC (Acidentes Vasculares Cerebrais) sofridos nos últimos anos.

O Centro Nacional de Cultura homenageia o amigo, o poeta e cidadão exemplar e apresenta a seus amigos e família sentidas condolências.

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