DIÁRIO DE AGOSTO

DIÁRIO DE AGOSTO (IV) :: TRATOS DE POLÉ

Tratos de polé são, na expressão popular, maus tratos, tormentos.

A polé era um instrumento de tortura usado pela Inquisição, que consistia em um «moitão seguro no teto, onde era suspensa a vítima, com pesos nos pés», por cordas, rolando numa roldana, deixando-a cair o carrasco em brusco arranco sem tocar no chão.
Mas não é desse triste e macabro instrumento que vos falamos hoje, mas dos tratos de polé que sofre a nossa querida língua pátria todos os dias – não só pelo vulgo, mas também nas rádios e televisões, por pessoas que teriam a obrigação de não dar pontapés na gramática. E o certo é que respeitar a língua é respeitarmo-nos como identidade, como património vivo e como cultura.
Exemplos? O verbo haver está muitas vezes a ser conjugado no plural e não pode ser. Diz-se sempre: Haverá ou há muitas coisas! E não os disparates que aí se ouvem. Já agora, haver escreve-se eternamente com agá – h! O verbo intervir anda confundido com não sei o quê. Diz-se intervim, interveio, interviemos! O plural de acordo não é acórdos – como o de molho (de carne) é molhos e não mólhos, que são de palha e próprios dos asnos. O plural de há de é hão de… Cuidado com as gafes do Gastão, que nem os macaquinhos sábios compreendem… Et cetera, et cetera…
Numa palavra, queridos leitores, cuidado com a língua!

DIÁRIO DE AGOSTO
por Guilherme d’Oliveira Martins
4 de agosto de 2017
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