Reflexões

De 29 de Março a 4 de Abril de 2004

Sintra foi o destino do nosso passeio deste fim-de-semana. E o Centro Nacional de Cultura iniciou, assim, uma nova cooperação, que estamos certos será da maior importância e significado, com a Associação dos Proprietários de Quintas em Sintra – graças ao empenhamento da actual direcção presidida pela Drª. Maria José Rau.

Sintra foi o destino do nosso passeio deste fim-de-semana. E o Centro Nacional de Cultura iniciou, assim, uma nova cooperação, que estamos certos será da maior importância e significado, com a Associação dos Proprietários de Quintas em Sintra – graças ao empenhamento da actual direcção presidida pela Drª. Maria José Rau. O protocolo foi assinado no sábado e permitirá a complementaridade de iniciativas entre as duas associações, desde a informação à sensibilização para o valor patrimonial das quintas de Sintra, no âmbito da paisagem classificada na lista do Património Mundial da UNESCO. “Glorious Eden” – foi como Lord Byron chamou à Serra, cujos pequenos e grandes mistérios procurámos interrogar num dia em que os elementos meteorológicos não estiveram do nosso lado, mas em que, sob os tectos acolhedores que nos abrigaram – graças à hospitalidade de muitos, desde a Drª. Cândida Gonzalez na Quinta das Sequóias ao Dr. David Ferreira, pudemos (sob a batuta do Dr. Anísio Franco) ouvir magníficas exposições sobre a história, a arte, o ambiente e a natureza. Num dia de Inverno, intenso de chuva, pudemos recordar “o Brighton da nobreza portuguesa”, no dizer do Príncipe Lichnowski (lido pela Arqª. Glória Azevedo Coutinho), a memória de D. Fernando II e o seu especial gosto pela Serra. A partir do impulso desse rei alemão, Sintra tornou-se mais verde e frondosa, aproveitando os terrenos ácidos derivados das rochas granulares. As espécies exóticas completaram ou substituíram a mata mediterrânica-atlântica de azinheiras, medronheiros, sobreiros e pinheiros mansos. Terra especialmente acolhedora para a gente do norte da Europa, Sintra está ligada à presença de William Beckford, de James Murphy, de Robert Southey, de Francis Cook, visconde de Monserrate, de Hans Christian Andresen, mas também de D. João de Castro, da Penha Verde (que um dia pediu ao rei um rochedo com seis árvores, junto à Quinta que possuía, como paga dos serviços prestados) ou dos Cadavais da Quinta da Capela – que também nos acolheram. As quintas estavam no sopé da serra, para receberem a água e para administrarem o povoamento florestal. Como diria o nosso Arqº. G. Ribeiro Telles, estava em causa a protecção, a produção e o recreio, elementos fundamentais na relação entre o homem e a natureza. Não há Sintra sem quintas e sem o seu romantismo. E estamos a ouvir Carlos da Maia a invectivar Cruges: “O quê!, o maestro não conhecia Sintra?… Então era necessário ficarem lá, fazer as peregrinações clássicas, subir à Pena, ir beber água à fonte dos Amores, barquejar na Várzea…” Mas, surpreendentemente, Cruges responde: “- A mim o que me está a apetecer muito é Seteais; e a manteiga fresca”. Por nós, apeteceu-nos tudo: a hospitalidade, os relatos, a bruma, as visões da Pena e de Monserrate com uma misteriosa cobertura, o almoço magnífico nas Azenhas do Mar. Numa palavra, tudo.

Guilherme d’Oliveira Martins

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