Reflexões

De 2 a 8 de Junho de 2003

O mundo da ciência ficou mais pobre. O físico e químico belga de origem russa Ilya Prigogine (1917-2003) faleceu na passada semana. Professor de Termodinâmica da Universidade Livre de Bruxelas, foi um dos espíritos mais brilhantes da sua geração e um europeísta convicto, em nome dos valores da paz e do entendimento…

O mundo da ciência ficou mais pobre. O físico e químico belga de origem russa Ilya Prigogine (1917-2003) faleceu na passada semana. Professor de Termodinâmica da Universidade Livre de Bruxelas, foi um dos espíritos mais brilhantes da sua geração e um europeísta convicto, em nome dos valores da paz e do entendimento. Teve um percurso extremamente relevante nas Universidades norte-americanas, sendo de destacar o magistério que exerceu em Chicago e no Texas. Foi um europeu universal. Obteve o Prémio Nobel da Química em 1977, graças aos seus estudos em termodinâmica, que permitiram, no dizer do Prof. Maelmstrom da Real Academia das Ciências da Suécia, “entender porque existimos e que as origens da vida não são uma coincidência”. De facto, a Teoria dos Sistemas Dinâmicos não Lineares, que conhecemos pela designação de Teoria do Caos, parte da ideia de que “o caos possibilita a vida e a inteligência. O cérebro foi concebido para tornar-se tão instável que o menor efeito pode conduzir à formação da ordem”. Questionando a teoria do “Big Bang” sobre a origem do universo, entendia que não poderia conceber-se uma explosão inicial a não ser como resultado da transformação da energia da gravitação em energia da matéria. Assim, estudou intensamente a ordem por flutuações e a organização das estruturas da matéria viva, a que designou com “estruturas dissipativas”. É a partir deste método que muitos progressos se têm verificado no âmbito das ciências da vida e da compreensão dos sistemas biológicos. Prigogine foi consultor da Comissão Europeia e membro da Comissão para a Cultura e o Desenvolvimento da UNESCO. Além de cientista prestigiadíssimo Ilya Prigogine foi um grande filósofo humanista – procurando incentivar o diálogo entre a ciência e a cultura, questionando-se sobre o “fim das certezas” e dos dogmatismos e sobre a importância da reflexão sobre o tempo. A sua obra de epistemologia com Isabelle Stengers – “A Nova Aliança” é um texto de referência no pensamento contemporâneo. Acreditava intimamente na criatividade e na força da inovação e da inteligência, do conhecimento e da aprendizagem – tendo, por isso, assumido uma militância da cultura da paz e de um europeísmo aberto e centrado nas pessoas. Foi ele que disse que “ultrapassando o determinismo da ciência clássica, o pensamento moderno da instabilidade tornou-se o grande adquirido do século XX. Esta instabilidade que se encontra no centro da história recente se tem aspectos negativos, abre grandes possibilidades para a humanidade. A nova racionalidade desenvolvida pelas ciências pode conduzir a uma concepção mais universal da dignidade humana. Afinal, o tempo não é dado. O tempo está em construção”. Eis o fundamental.

Guilherme d`Oliveira Martins

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