Crónicas de Viagem - ÍNDIA

Índia, da costa do Coromandel à costa do Malabar – Crónica III [3set2019]

De novo um dia muito especial, que começou no Museu Nacional (Government Museum), onde se reúne um conjunto muito significativo de peças, quer no domínio da escultura, que na história natural. É um museu antigo, que se ressente por esse mesmo facto, faltando-lhe modernidade – que não reduz o interesse. Do granito ao bronze, é o que se encontra, numa rica coleção de escultura. O Museu fica em Egmore, fora do centro de Chennay. Começou a ser construído em 1851, é o segundo museu mais antigo da Índia, depois do Museu de Kolkata. É particularmente rico nas coleções de arqueologia e numismática. É a maior coleção de arqueologia do Império Romano fora da Europa. O museu é constituído por seis edifícios com 46 galerias, num total de 66 mil metros quadrados – abrangendo: arqueologia, numismática, zoologia, história natural, escultura, manuscritos e pinturas Amravati… É impressionante o conjunto de peças e de elementos que é possível ver aqui. A Bárbara ficou impressionada com a maquete do templo das mil colunas em granito e com toda a parte relativa à história natural.

Antes do almoço foi visitada ainda a igreja de Nossa Senhora da Saúde. Recorramos sobre o Monte Pequeno ao que nos diz Helder Carita no portal HPIP, precioso auxiliar nesta nossa visita. «Era tradição entre os antigos cristãos de São Tomé que no Monte Pequeno, “chinna malai”, em tamil, o apóstolo São Tomé e os seus discípulos se refugiavam numa pequena gruta das perseguições a que eram sujeitos. Em 1545, Nuno Álvares de Faria conseguiu o arrendamento deste local, construindo sobre a gruta uma pequena capela. Mais tarde, ainda com despesas asseguradas pelo proprietário, foi ali construída uma igreja, passando os jesuítas a acompanhar a comunidade cristã estabelecida nos arredores. Um pouco descaracterizada, apresenta uma fachada de linhas simples e desenho classicizante, com um pórtico de entrada em arco de volta perfeita de moldura bastante simplificada, ladeado por pilastras. O interior da igreja apresenta uma nave única, retangular, coberta com abóbada de canhão, solução construtiva que vemos generalizar‐se na zona do Coromandel, mesmo em pequenas igrejas, como são os casos das igrejas da Luz e de Nossa Senhora do Rosário. O interior guarda um conjunto de imagens, de que se destaca uma de São Tomé, mandada fazer por António Gonçalves de Ataíde no ano de 1612».

Depois do almoço, o grupo rumou ao Monte Grande. Continuamos a seguir os passos do HPIP: «Segundo a tradição da comunidade dos antigos cristãos de São Tomé, foi nesta colina, chamada em tamil “peria malai” e situada nos atuais arredores da cidade de Madrasta (Chennay), que o apóstolo São Tomé terá sido martirizado». Como Anísio Franco nos recorda, várias são as lendas em torno do mártir S. Tomé, muito ligadas à tradição hindu. Não esqueçamos que para os Nestorianos S. Tomé poderia ter sido irmão gémeo de Jesus Cristo, carpinteiro de profissão, com a estranha capacidade de se poder transformar em diversos animais. Daí haver duas hipóteses para o martírio: uma, na qual um caçador inadvertidamente atingiu o animal em que Tomé se transformara (pavão, gamo…), e outra que corresponde a um martírio semelhante ao de Jesus Cristo e ao dos outros apóstolos sacrificados…

«O edifício existente (no Monte Grande), segundo os testemunhos portugueses, era constituído por uma pequena ermida, meia em ruínas, que abrigava os restos mortais de São Tomé e dos seus discípulos. Em 1523 foi levantada uma pequena igreja, construída pelo pedreiro Vicente Fernandes a pedido do capitão e feitor da Costa da Pescaria. Assumindo as autoridades portuguesas a proteção dos restos mortais do apóstolo, o seu corpo foi levado para o centro de Meliapor, no local onde hoje se encontra a basílica com a sua invocação. Em 1547 a capela voltou a receber obras de ampliação, pela iniciativa do vigário Gaspar Coelho e do capitão Gabriel de Ataíde, sendo neste período que o edifício ganhou a atual estrutura espacial, reportado à primeira obra, realizada em 1526, é a capela‐mor, com uma cobertura em abóbada de ogivas cruzadas e as ameias, que se distribuem no remate exterior da capela‐mor e início da nave, são interrompidas por coruchéus cónicos. Em articulação com a antiga capela‐mor, a igreja recebeu uma nave mais comprida em abóbada de canhão, processando‐se a entrada por um átrio coberto por abóbada de ogivas cruzadas, com uma cruz de Cristo na chave. A igreja voltou a receber obras no ano de 1685 e novamente em 1723, sendo deste último período o escadório de acesso ao alto da colina, conforme inscrição sobre o arco de entrada do dito escadório. Destas obras tardias, a fachada apresenta um desenho classicizante, notoriamente diferenciado de toda a volumetria do edifício. Na base do altar encontra‐se uma cruz de granito, em baixo relevo, com inscrição em língua pahlavi, do século VII. Nas suas linhas esta cruz apresenta afinidades com outra, que se encontra na igreja de Santa Maria de Valiyaplly, perto de Kottayam. No interior da igreja encontra‐se ainda uma pintura da Virgem Maria com o Menino Jesus, de inegável qualidade. A pintura foi retirada, em 1559, pelo nayak de Chandranagari, quando atacou Meliapor, tendo sido posteriormente devolvida ao local».

É imperdível o testemunho da Bárbara Assis Pacheco (além, naturalmente, do de Anísio Franco). Sobre a visita às escuras a algumas fantásticas Salas do Museu Nacional, sobre os animais empalhados, mesmo velhinhos, mas em posições surpreendentes, e sobre a sua coragem em experimentar os alimentos mais imprevistos… Fantástica viagem!

Oiça aqui as crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:

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