Crónicas de Viagem - ÍNDIA

Índia, da costa do Coromandel à costa do Malabar – Crónica II [2set2019]

Foi um dia diferente, mais calmo, mas deu para refletir sobre diversos temas e questões – como fez questão de salientar Anísio Franco.

Foi possível visitar o templo hindu de Kapalishwara – o mais importante do estado de Tamil Nadu. É dedicado ao Senhor Shiva, foi construído inicialmente no século VII como exemplo da arquitetura dravídica. O templo atual foi edificado a partir do século XVI, no período Vijayanagar. Shiva é com Brahma e Vishnu, como sabemos, uma das mais importantes divindades hindus – concede aos homens o poder da água, na sua testa está o terceiro olho que representa os raios de fogo – símbolo da inteligência e do esclarecimento. Aí encontramos as forças divina e regenerativa.

Neste dia especial, em que se celebrava Ganesh, importa lembrar a luta entre Shiva e o seu filho Ganesh, onde se mostra a força destrutiva da violência. Shiva cortou a cabeça de Ganesh, uma vez que este não o reconheceu enquanto guardião do palácio, já que Shiva deixara crescer a barba… Mas quando a mãe de Ganesh se apercebeu da loucura de Shiva obrigou o marido a fazer regressar Ganesh à vida. Todavia, um chacal havia já comido a cabeça do jovem, pelo que Shiva teve de encontrar uma solução. E descobriu uma cabeça de elefante… A visita ao templo de Kapalishwara permitiu que se recordasse a mitologia hindu e a sua força de criação, conservação e destruição.

Seguiram-se as duas capelas católicas – de Santa Rita, «o derradeiro testemunho do conjunto arquitetónico que foi o convento dos agostinhos (segundo Helder Carita). Este convento foi fundado em 1603 pelo provincial da ordem, Frei Miguel dos Anjos. Abandonado após a conquista da cidade em 1663, o convento voltou a abrir com o retorno das autoridades portuguesas, mas o declínio da cidade determinou a sua progressiva ruína. A capela terá escapado pela intervenção, em 1740, do vigário Frei Gaspar dos Reis, que assumiu o restauro do edifício. Da primitiva construção, a fachada apresenta uma composição de linhas maneiristas, com dois andares separados por uma larga cornija e dividida verticalmente por pilastras toscanas. As obras do século XVIII alteraram o desenho do ático, com um frontão de perfil circular, notando‐se a permanência de duas colunas desirmanadas, que fariam parte de um desaparecido nicho central. O interior apresenta uma estrutura simples, com uma nave retangular, separada da capela‐mor por arco de volta perfeita, enquadrado por dois altares. A capela‐mor é marcada por um retábulo onde, ao centro, encontramos uma grande tela com a figura de Santa Rita, em bom estado de conservação». A capela está integrada num colégio e foi muito alterada na sua orientação e funcionalidade. «O interior da capela guarda algumas inscrições em arménio, datadas de 1729…». Seguiu-se a capela de Nossa Senhora da Luz… A acreditar a lenda, «um pequeno grupo de franciscanos que seguiam numa nau em noite de tormenta foram guiados a terra por uma luz que, uma vez perseguida até ao interior, se extinguiu no local onde de imediato ergueram a Igreja de Nossa Senhora da Luz, a qual ostenta uma lápide com uma inscrição pintada, de fiabilidade duvidosa, que dá como fundador um Pedro da Atouguia em 1516» (como atesta Walter Rossa no HPIP). «É uma data surpreendente, pois antecede em dois o ano da primeira visita documentada de portugueses a Meliapor. No entanto, o portal manuelino parece confirmá‐la e desmentir a versão de que a igreja só terá sido erguida em 1547, data de uma provável e profunda reforma, bem como da propriamente dita instalação dos franciscanos na cidade. São Lázaro terá sido erguida em 1582, e após diversas reconstruções é hoje Nossa Senhora da Guia. São Francisco, São João Batista e a Misericórdia completam essa primeira lista de 1580. Porém em 1635 os dominicanos concluíram e instalaram‐se no Santo Rosário e entre 1650 e 1688 foi construída a Igreja do Descanso (hoje Visitação). Pela ação do seu provincial, Frei Miguel dos Anjos, os agostinhos fundaram a sua casa em 1603, da qual subsistiu (a já referida) Capela de Santa Rita, muito em virtude de uma profunda reforma levada a cabo em 1740».

Já falámos de Ganesh e foi com entusiasmo que ouvimos Bárbara Assis Pacheco a falar-nos da grande festa, num dia que bem conhecemos (a Helena Serra lembra-se por certo destas mesmas festividades em Mumbai, a nossa Bombaim). Vimos o lançamento à água das imagens da divindade com cabeça de elefante – filho de Shiva e de Parvati, símbolo da boa fortuna e da sabedoria, bem como com da resolução lógica dos problemas. As cores são motivo de alegria – a figura de Ganesh ou Ganesha é amarela ou vermelha, com corpo de ser humano, uma grande barriga, quatro braços, apenas uma presa na cabeça de elefante e um rato serve-lhe de transporte… O ato de mergulhar as imagens nas águas significa a invocação do espírito e não apenas a lembrança de um símbolo material ou de um mero ídolo. E Anísio Franco fez bem em recordar que as imagens em plástico estão a desaparecer, em benefício do uso de materiais tradicionais – que não só banem o plástico como poluidor, como vão ao encontro da natureza e do seu equilíbrio. Se é verdade que Ganesh é uma das divindades mais importantes do hinduísmo, o certo é que os últimos anos conheceram um nítido e surpreendente aumento da importância do seu culto…

Oiça aqui as crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:

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