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Colóquio Raiz & Utopia – Liberdade e Futuro

Colóquio no dia 16 de Dezembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, assinalando a importância da revista Raiz & Utopia.

Raiz & Utopia


No âmbito da celebração dos 30 anos do 25 de Abril de 1974, o Centro Nacional de Cultura pretende assinalar a importância da revista Raiz & Utopia como momento fundamental de reflexão e debate na fase de estabilização da democracia portuguesa.


Assim, terá lugar no próximo dia 16 de Dezembro pelas 15h30 na Fundação Calouste Gulbenkian um colóquio que precederá a publicação de uma Antologia da revista (2005). O colóquio contará com a participação de Guy Coq, Carlos Medeiros, Alberto Vaz da Silva, Guilherme d’Oliveira Martins e de antigos colaboradores da revista. Serão apresentados depoimentos de Eduardo Lourenço e João Fatela.



A revista Raiz & Utopia surgiu na Primavera de 77. Vivia-se então em Portugal o efeito de um confronto – se não sangrento, pelo menos violento, – de que os saneamentos e as campanhas de dinamização cultural do MFA foram aspectos desgastantes mesmo à distância, mais pareçam anedóticos. A sociedade estava cansada de “palavras de ordem” e de um excesso de politização, o que explica o amplo movimento de adesão que se criou em torno da revista. Ao manifesto Raiz & Utopia (que teve três autores, António José Saraiva, José Baptista e Carlos Medeiros, os dois primeiros já desaparecidos) reagiram  por escrito dezenas de intelectuais e políticos de vários horizontes – e essa foi uma primeira grande vitória da Raiz & Utopia  a que se viriam a somar outras semelhantes ao longo da sua existência, que terminou no Outono de 81. Adelino Amaro da Costa, Alfredo de Sousa, Nuno de Bragança – para só citar estes, também desaparecidos tão antes do tempo – saudaram, entre muitos outros, a “pedrada no charco” que era o Manifesto publicado no nº 1 e que aqui se resume com o texto na contra-capa desse número, hoje esgotadíssimo:


“Os burocratas, tecnocratas e salvadores políticos dos vários mundos, independentemente das suas diferenças de situação e doutrina, estão empenhados em consolidar um sistema em que a grande maioria dos homens executa mecanicamente as decisões tomadas por alguns. Torna-se cada vez mais urgente restituir a cada homem a sua humanidade, quadriculada e esquartejada num mundo cada vez mais programado. “Raiz & Utopia” não propõe uma nova doutrina no plano político e ideológico em que se exibem os actores do dia. Não contribui para o discurso dominante. Tão pouco alinha com o que é moda chamar-se “ciência”. Recusa a ilusão do “progresso” considerando que a famosa “marcha da humanidade” é um comboio num túnel em forma de funil. Os problemas de raiz estão hoje escamoteados no discurso tecnoburocrata. É preciso mudar radicalmente a problemática a partir do quotidiano, transformar a atitude do espírito perante as coisas. A utopia não é um impossível: é um Norte, a Leste ou a Oeste das ilusões confortáveis que hoje são servidas como ópio às massas resignadas.”


Estava-se em 1977. Ainda não se vislumbravam os contornos da sociedade da informação, tal como hoje a conhecemos, desejamos e tememos – e no entanto há quase trinta anos anunciava-se já o tempo que hoje vivemos. Raiz & Utopia – de que Helena Vaz da Silva assegurou a direcção a partir do nº 5 até ao fim – foi, de facto, pedrada no charco enquanto existiu. Quando parou, não foi por falta de leitores, mas por se ter entendido que se tinha esgotado o seu projecto, que estava cumprida a sua missão de proclamar uma nova atitude face à vida e à política. A revista perfez um ciclo – nasceu na Primavera, morreu no Outono, 4 anos volvidos, – mas o seu apelo a uma utopia radical, em favor de um repensar dos fundamentos da vida, propagou-se e deixou sementes.



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