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CENTENÁRIO DA MORTE DE BOCAGE

Passará no próximo dia 21 de Dezembro o segundo centenário da morte do grande poeta Bocage.

CENTENÁRIO DA MORTE DE BOCAGE


Passará no próximo dia 21 de Dezembro o segundo centenário da morte do grande poeta Bocage. Foi o maior poeta português do século XVIII, que se irmana com Camões no destino do estro e nas desventuras de uma existência repartida entre Portugal e a Índia. Manuel Maria l’ Hedois de Barbosa du Bocage – de seu nome completo – era filho de um advogado e de uma senhora francesa de ascendência normanda. Orfão de mãe desde os dez anos, assentou praça em Setúbal em 1781, tendo-se alistado dois anos depois na recém-fundada Academia dos Guardas-Marinhas, em Lisboa. Conheceu então a boémia lisboeta, os botequins, o Nicola, onde o seu génio poético se afirmou no improviso e lhe ganhou aplausos. Subitamente, ao fim de dez meses de frequência do curso, Bocage abandonou os estudos, sendo dado como desertor em 6 de Junho de 1784. Nomeado guarda-marinha, partiu para a Índia a 4 de Abril de 1786, fazendo escala no Rio de Janeiro, tendo chegado a Goa a 20 de Outubro.


A sua estada na Índia foi por ele comparada ao exílio de Ovídio entre os Getas – os “bárbaros” indianos que o rodeavam. Promovido ao posto de tenente, foi destacado em Damão, mas só aí permaneceu dois dias, 7 a 8 de Abril de 1789, refugiando-se em Macau de onde viajou para Lisboa, em 1790.


No seu regresso, Bocage aderiu à Nova Arcádia, onde assumiu o pseudónimo literário de Elmano Sadino. Em 10 de Agosto de 1797 foi preso por ordem do intendente Pina Manique, acusado de ser “autor de papéis ímpios e sediciosos”. A peça principal do auto de acusação era o poema Pavorosa Ilusão da Eternidade. A 7 de Novembro do mesmo ano foi transferido para os cárceres da Inquisição, daí seguindo, a 22 de Março de 1798, para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades, dirigida pelos padres do Oratório. Pouco depois saiu do convento e um trabalho regular e remunerado tornou-se nele uma necessidade desde o momento em que procurou dar à irmã mais nova, Maria Francisca, um lar. E assim se instalou na travessa André Valente, no andar onde morreu e se encontra afixada uma placa comemorativa da sua presença.


Foi durante este período que travou uma polémica com José Agostinho de Macedo, ditando a um amigo no Nicola a Pena de Talião, sátira que ficou célebre na literatura portuguesa. Consumido por um quotidiano desregrado, contraiu um aneurisma, que o forçou ao recolhimento e o levou a reconciliar-se com as normas convencionais da existência e com os inimigos. Reduzido a extrema penúria, foi graças aos esforços de um amigo, José Pedro da Silva, que lhe recolheu os poemas compostos durante a enfermidade e os publicou, vendendo-os pela rua, que o poeta auferiu alguns recursos com que manteve o modesto lar. Os poemas desta fase final da sua vida constituem a palinódia de um passado de boémia e de irreverência, perdido o ardor que animara os verdes anos e o sustentara até à hora da doença. Morreu a 21 de Dezembro de 1805. (…) Foi um tradutor rigoroso do latim e do francês, vertendo para o nosso idioma textos de Ovídio, Museu, Lacroix, Voltaire, Delille, Pierre Rousseau, entre outros.


(Texto do Centro de Documentação de Autores Portugueses, in www.iplb.pt )


 


 


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