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Anne Teresa De Keersmaeker vence Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2021

Anne Teresa De Keersmaeker, coreógrafa de Dança Contemporânea belga, criadora da companhia Rosas e uma das grandes referências europeias da Dança Contemporânea, venceu a edição deste ano do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural.

Este reconhecimento presta homenagem à contribuição excecional de Anne Teresa De Keersmaeker para a divulgação da cultura e dos valores europeus através da dança.

O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura em cooperação com a Europa Nostra, a principal organização europeia de defesa do património que o CNC representa em Portugal, e o Clube Português de Imprensa, distingue contribuições excecionais para a proteção e divulgação do património cultural e dos ideais europeus. Conta com o apoio do Ministério da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.

O Júri do Prémio concedeu também um Reconhecimento Especial a Antonia Arslan, prolífica escritora e académica italiana de origem arménia, pelo seu importante contributo para a defesa do Património Cultural europeu – tangível e intangível – através da Literatura e para a defesa dos Direitos Humanos e Culturais, nomeadamente os das mulheres escritoras.

A cerimónia de atribuição do Prémio terá lugar no dia 8 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.

Reagindo à notícia, Anne Teresa De Keersmaeker afirmou: “Quero agradecer ao Júri ter-me escolhido para o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva. A honra é toda minha e evidencia as profundas dívidas que acumulei para com o panorama cultural europeu em geral e para com Lisboa e Portugal em particular. Estes sentimentos de endividamento são perfeitamente resumidos nesta citação de Auden: ‘The dance’s pattern, dance while you can / Dance, dance, for the figure is easy / The tune is catching and will not stop / Dance till the stars come down from the rafters / Dance, dance, dance till you drop’.”

O Júri do Prémio declarou: “A contribuição de Anne Teresa De Keersmaeker para a celebração do Património Cultural europeu é múltipla: em primeiro lugar, porque ela é uma intérprete aclamada das tradições da dança europeia; depois, porque a maioria das suas performances é inspirada e leva à cena na Europa; por último, porque a escolha de Bruxelas para a sede da sua companhia de dança é amplamente influenciado pelo caráter europeu e multicultural da cidade. Para muitos apreciadores de ballet e de dança, De Keersmaeker tornou-se, sem dúvida, um ícone da cena cultural europeia, inspirando-se fortemente no património e nas tradições musicais da Europa, tendo conseguido difundir este vocabulário autêntico da dança na América e na Ásia”.

O Júri, presidido por Maria Calado, Presidente do Centro Nacional de Cultura, é composto por especialistas independentes nos campos da Cultura, do Património e da Comunicação de vários países europeus: Francisco Pinto Balsemão, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa (Portugal),  Guilherme d’Oliveira Martins, Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), Irina Subotić, Presidente da Europa Nostra (Servia), João David Nunes, Vice-Presidente do Clube Português de Imprensa (Portugal), Marianne Roald Ytterdal, Membro do Conselho da Europa Nostra (Noruega), e Piet Jaspaert, Vice-Presidente da Europa Nostra (Bélgica). 

Em 1980, depois de ter estudado dança na Escola Mudra (de Maurice Béjart), em Bruxelas, e na Tisch de Nova Iorque, Anne Teresa De Keersmaeker (n. 1960) criou Asch, o seu primeiro trabalho coreográfico. Dois anos depois, estreou Fase, Four Movements to the Music of Steve Reich. Em 1983, De Keersmaeker estabeleceu a companhia de dança Rosas e criou o espetáculo Rosas danst Rosas. Desde a criação destas obras inovadoras, as suas coreografias assentam numa rigorosa e prolífica exploração da relação entre dança e música. Com a companhia Rosas, construiu um vasto conjunto de espetáculos que abordam estruturas musicais e partituras de todas as épocas, da música antiga à contemporânea, passando por expressões populares. A sua linguagem e prática coreográficas são inspiradas em geometria e em modelos matemáticos, no estudo do mundo natural e em estruturas sociais, abrindo perspetivas únicas para o desdobramento do corpo no espaço e no tempo. As suas mais recentes criações assentam nos Concertos de Brandenbrugo de J.S. Bach e num solo baseado nas Variações Goldberg do mesmo compositor. Em 2020, criou uma nova coreografia para o musical West Side Story, na Broadway, e começou a trabalhar na peça Dark Red, uma série de coreografias pensadas para o espaço de um museu.

Entre 1992 e 2007, a companhia Rosas foi residente do Teatro La Monnaie/De Munt, em Bruxelas. Nesse período, De Keersmaeker dirigiu diversas óperas e outras peças que desde então integram o reportório de companhias de dança do mundo inteiro. Em 1995, estabeleceu a escola P.A.R.T.S. (Performing Arts Research and Training Studios) em Bruxelas, em associação com o Teatro La Monnaie/De Munt.

Anne Teresa De Keersmaeker recebeu numerosos títulos honorários e condecorações: recebeu o título de Baronesa do Rei da Bélgica, em 1996, e foi condecorada com a Ordem das Artes e das Letras (França), em 2000. O seu trabalho foi também reconhecido com vários Prémios, tendo recebido a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa em 2012 e a medalha de Mérito Cultural concedida pelo Ministério da Cultura de Portugal em 2014. Recebeu ainda o Leão de Ouro pela sua carreira na Bienal de Veneza em 2015.

O Júri do Prémio decidiu também conceder um Reconhecimento Especial à escritora italiana de origem arménia Antonia Arslan. “Antonia Arslan tem sido uma defensora do Património Cultural da Europa – tangível e intangível – desde há quase 60 anos: promovendo a literatura europeia, defendendo as escritoras italianas e defendendo a cultura e a memória do povo arménio. Viajou pelo mundo proferindo conferências não só sobre as suas obras científicas ou os seus romances literários, nem apenas sobre as violações dos direitos humanos e culturais que afetaram o seu país de origem, a Arménia, mas também sobre as razões essenciais pelas quais a cultura da Europa deve ser defendida. Em resumo, Antonia Arslan tem falado e escrito para milhões de pessoas de todo o mundo sobre a importância do Património Cultural da Europa. O seu trabalho inspirador e empenhado tem tido um imenso impacto não só em Itália, mas também na Europa e em todo o mundo.”

Sobre o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva

O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural recorda a jornalista portuguesa, escritora, ativista cultural e política (1939- 2002), e a sua notável contribuição para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus. É atribuído anualmente a um cidadão europeu cuja carreira se tenha distinguido pela difusão, defesa, e promoção do património cultural da Europa, quer através de obras literárias e musicais, quer através de reportagens, artigos, crónicas, fotografias, cartoons, documentários, filmes de ficção e programas de rádio e/ou televisão.

O Prémio conta com os apoios do Ministério da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.

O escritor italiano Claudio Magris foi o primeiro laureado do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva em 2013; o escritor turco e Prémio Nobel da Literatura Orhan Pamuk foi distinguido em 2014; o músico catalão Jordi Savall foi premiado em 2015; o cartoonista francês Jean Plantureux, conhecido como Plantu, e o ensaísta português Eduardo Lourenço venceram, ex aequo, a edição de 2016 do Prémio; em 2017, o cineasta Wim Wenders foi o vencedor;  em 2018 a vencedora foi a historiadora inglesa Bettany Hughes e, em 2019, a física de partículas italiana Fabiola Gianotti. José Tolentino Mendonça foi o vencedor da edição 2020.

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