Em Busca de Ideias Contemporâneas

Os sete pilares da sabedoria

Folhetim de Verão “Em Busca de Ideias Contemporâneas” – capítulo 12

Edgar Morin e Federico Mayor, dois membros do Centro Nacional de Cultura, concordaram na necessidade de encontrar ideias sobre a essência da Educação do Futuro no contexto do pensamento complexo. Edgar Morin pôs, assim, a tónica em sete princípios chave que considera necessários. A UNESCO considerou através do seu Diretor-Geral, contribuir para as profundas alterações do pensamento indispensáveis para a preparação do futuro. O saber científico, no qual se apoia esta reflexão, é não apenas provisório, mas ainda assenta nos profundos mistérios respeitantes ao Universo, à vida e ao nascimento do ser humano. Aqui se abre o indecidível no qual intervêm as opções filosóficas, as crenças religiosas através das diferentes culturas e civilizações. Eis os sete saberes necessários.

Começamos pelos obstáculos ao conhecimento – o erro e a ilusão. É estranho que a educação que visa comunicar os conhecimentos seja cega relativamente ao conhecimento humano. Considerem-se deste modo os seus dispositivos, as suas doenças, as dificuldades, as propensões para o erro e para a ilusão, sobre que infelizmente a escola não se preocupa devidamente, evitando fazer conhecer o que é conhecer. Com efeito, o conhecimento não pode ser considerado como um instrumento “ready made”, que se poderia utilizar sem examinar a sua natureza. O conhecimento do conhecimento deve aparecer como uma necessidade primeira que serve de preparação para o confronto com os riscos permanentes do erro e da ilusão, que não cessam de paralisar o género humano. Torna-se necessário armar cada espírito para o combate vital da lucidez. Importa introduzir e desenvolver no ensino o estudo dos caracteres cerebrais, mentais e culturais dos conhecimentos humanos, dos seus processos e das suas modalidades, disposições físicas como culturais que favorecem o erro e a ilusão.

Em segundo lugar, urge salvaguardar os princípios de um conhecimento pertinente. Há um problema capital, sempre desconhecido, que é o da necessidade de promover um conhecimento capaz de considerar os problemas globais e fundamentais, para aí se inscreverem os conhecimentos parciais e locais. A supremacia de um conhecimento fragmentado segundo as várias disciplinas torna muitas vezes impossível um elo entre as partes e o todo. Importa considerar um conhecimento capaz de tratar os seus objetos, no contexto, no complexo e no conjunto. É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas as informações num contexto e num conjunto; daí ser necessário ensinar os métodos que permitam tratar as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e considerar tudo num mundo complexo.

Em terceiro lugar, trata-se de Ensinar a Condição Humana. O ser humano é ao mesmo tempo físico, biológico, cultural, social e histórico. É essa unidade complexa da natureza humana que está desintegrada no ensino, através de diversas disciplinas, pelo que se torna difícil ensinar a condição humana. É preciso restaurá-la, de modo a que cada qual, onde quer que esteja, tome consciência quer da sua identidade complexa, quer da sua identidade comum relativamente aos outros seres humanos. Como é possível reconhecer a unidade e a complexidade humanas, a partir da educação contemporânea, reunindo e organizando conhecimentos na dispersão das ciências da natureza, das ciências humanas, da literatura e da filosofia e mostrar o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo o que é humano?

Em quarto lugar, urge Ensinar a Identidade Terrena. O destino doravante planetário do género humano é uma realidade-chave ignorada pelo ensino. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária deverá crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que deverá ser cada vez mais indispensável para cada um e para todos, tornar-se-á um dos objetos maiores do ensino. Convém ensinar a história da Era Planetária, que começa com a comunicação de todos os continentes desde o século XVI, e mostrar como se tornaram inter-solidárias todas as partes do mundo, sem ocultar as opressões e dominações que assaltam a humanidade e não desapareceram. Será necessário indicar o complexo da crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos, agora confrontados com os mesmos problemas da vida e da morte, vivem numa mesma comunidade de destino.

[continua]

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