Em Busca de Ideias Contemporâneas

Em Busca de Ideias Contemporâneas

Folhetim de Verão “Em Busca de Ideias Contemporâneas” – capítulo 1

Neste Verão de 2025 faremos uma deambulação diária pelas ideias contemporâneas, num tempo cheio de incertezas e dúvidas, em que a conjuntura internacional parece avessa à inovação e à esperança no futuro. Se o mundo parece estar uniformemente acelerado, a verdade é que o pano de fundo é dominado pela tensão entre os objetos, experimentados e manipulados numa lógica quantitaiva, e os sujeitos que levantam os problemas da existência, da comunicação, da consciência e do destino. Assim, o grande desafio obriga-nos a ir além do imediato, compreendendo que o conhecimento tem de partir da ideia do mundo imperfeito em que vivemos, que tem como  característica a sua perfectibilidade – podermos amanhã ser melhores do que hoje. A aprendizagem é o fundamento da educação e da formação ao longo da vida e a complexidade resulta naturalmente da diversidade e do pluralismo. Os binómios sujeito / objeto; alma / corpo; qualidade / quantidade; finalidade / causalidade; sentimento / razão;  liberdade / determinismo; existência / essência condicionam a relação entre pensamento e ação, conduzindo ao que podemos designar como sustentabilidade cultural, num tempo em que passamos do análogico ao digital, do simples ao complexo. Não se trata, porém, de algo de inédito na História. Não. A vida humana é feita de vários elementos, muitas vezes incompatíveis, mas que se vão complementando – e o pensamento contemporâneo procura garantir um melhor entendimento sobre a realidade e o tempo. Importa apostar na conciliação dos opostos. Daí a necessidade de concebermos o contexto, o global e o multidimensional, bem como a relação entre o todo e as partes, uma vez que a sociedade inclui os fatores histórico, económico, sociológico e religioso. Assim a educação do futuro deverá ser universal, respondendo às perguntas: Quem somos? Donde vimos? Para onde vamos?

Edgar Morin disse a João Fatela que tomou consciência de que a ciência clássica tinha um só principio: a ordem, o determinismo, as leis, as regras. “Depois começou-se a reconhecer a desordem através nomeadamente da termo-dinâmica de Bolzman, a estatística, etc. Mas a ciência não introduziu a ideia de organização de organização que é não redutível à ordem, não redutível à desordem. Ela própria só pode conceber a partir de uma espécie de combinação ativa de desordem, de ordem e de interações. A ideia de organização é portanto uma ideia-chave. É aí que eu elementos da teoria dos sistemas, para constituir uma teoria da organização. O nascimento da organização do nosso universo (núcleos, átomos, Estado) é inseparável desse processo de agitação e, portanto, da interação e dos constrangimentos, quer dizer, da ordem. O grande problema é justamente pensar o conceito de organização e pensar os fenómenos, os objetos, em termos de organização”. No fundo, “a vida é uma organização original e extremente complexa: ela é auto-organização. Os fenómenos humanos são muito mais complexos do que  os fenómenos vivos. (…) O meu trabalho conduz a uma memória da organização antropo-social, e ao mesmo tempo, como eu escrevi no Paradigme Perdu, a recusa de expulsar a desordem conduz-me à visão, não do homo sapiens, mas sim do homo sapiens-demens. A originalidade do homem situa-se na ligação consubstancial entre a sua razão e a sua “desrazão”. A minha teoria não fornece as chaves para uma ciência do homem, mas muda o olhar focado sobre a humanidade, sobre a sociedade”.

Subscreva a nossa newsletter