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Mário Ruivo (1927-2017)

No dia 3 de março, data do nascimento de Mário Ruivo, recordamos o homem de ciência e cultura, que foi sócio e dirigente do Centro Nacional de Cultura, através das palavras que proferiu em 2000, no contexto do encontro/reflexão com Edgar Morin (Pensar o Milénio com Edgar Morin):

(…). Je fais partie d’une génération qui a côtoyé cette forme de conversation entre un groupe d’amis que l’on appelait “tertúlia” et qui avait une forte tradition en Espagne et au Portugal. Je me rappelle le plaisir que j’éprouvais, étant jeune étudiant, d’y être associé, dans un café, au tour de la table préférée (et malheur à ceux qui essayaient de l’occuper) où l’on discutait de tout; à l’époque, on ne parlait pas encore d’interdisciplinarité. La “tertúlia” était une pratique interdisciplinaire avant la lettre, dû à la diversité d’expérience de ses participants, dans un esprit de tolérance et d’amitié. Je vais donc essayer dans l’esprit de la “tertúlia” de vous encourager à participer à cette réflexion, en vue d’identifier des thèmes qui permettront, au cour de cette rencontre, d’approfondir le débat, surtout en tenant compte de cette idée mobilisatrice de “servir la vie” .

(…. ) Un grand mouvement de fond, enrichi par la diversité de valeurs et d’aspirations de la société civile est nécessaire en vue de modeler de nouvelles formes de gouvernance qui renforcent le rôle médiateur de l´Etat, au service des citoyens et de l´intérêt public. Nous devons nous comporter à l’image de l’eau, qui tout en étant souple finit par éroder un rocher, comme on dit en portugais “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”. La culture de la paix préconisée par Federico [Federico Mayor, Diretor Geral da Unesco] est apte à mobiliser les mouvements d’opinion. Il s’agit, au fond, de projeter l’énergie et la créativité des peuples, dans tous les mouvements qui visent un changement de la société et du système de gouvernance.

Biografia

Biólogo, Oceanógrafo, Ativista da Cultura Científica era o português com maior prestígio internacional nos domínios que cultivou. Na FAO e na UNESCO ganhou uma experiência ímpar – tendo sido o grande impulsionador e animador do Ano Internacional dos Oceanos (1998), cinco séculos depois da chegada de Vasco da Gama à Índia, da Expo 98, que teve os Oceanos como tema e da Comissão Independente das Nações Unidas para os Oceanos, presidida por Mário Soares.

Foi dirigente da Direção Universitária de Lisboa, do MUD Juvenil, na década de 1940, tendo estado preso em 1947. Formado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no ano de 1950, especializou-se em oceanografia biológica e gestão de recursos vivos na Universidade Paris I -Sorbonne, tendo desenvolvido uma investigação em Portugal e em diversos países europeus. Foi diretor da Divisão de Recursos Aquáticos e do Ambiente do Departamento de Pescas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (1974-79), sediado em Roma, foi Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1975 e Secretário de Estado das Pescas nos II, III e IV Governos Provisórios. Entre 1975 e 1979 foi Diretor-geral dos Recursos Aquáticos e Ambiente do Ministério da Agricultura e Pescas e Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1974-78). Foi presidente do Comité para a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (1980-88), membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica – SFCT (1986-95) e presidente da Comissão de Avaliação e Controle Independente – Projeto COMBO, MEPAT (1996-97). Foi também coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-98) e membro da Comissão Estratégica dos Oceanos, bem como conselheiro científico da Expo 98.

Foi também presidente da Comissão Oceanográfica Intersectorial do Ministério da Educação e Ciência, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e presidente do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar. Foi distinguido com a Medalha de Ouro da Foundation for International Studies (1996), o Açor de Cristal atribuído pela Mostra Atlântica de Televisão (1997), o Prémio “Prestígio” (1997), o Prémio Bordalo de Honra da Casa da Imprensa (2000) e a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro da Câmara Municipal de Campo Maior (2010). Foi ainda condecorado com o grau de Cavaleiro da Legião de Honra francesa. Em 2015, foi distinguido com o Prémio Cidadão Europeu, pelo seu contributo para a “promoção do entendimento e a integração de cidadãos na União Europeia e a cooperação entre países”. Em dezembro de 2016 recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade do Algarve.

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