Reflexões

De 18 a 24 de Julho de 2005

Os ecos dos acontecimentos de Londres continuam a fazer-se sentir. Os bombistas suicidas são uma marca do nosso tempo. Terrível marca. As explicações multiplicam-se, mas nenhumas são satisfatórias. Não estamos perante manifestações de miséria ou de ignorância.

REFLEXÃO DA SEMANA
De 18 a 24 de Julho de 2005


Os ecos dos acontecimentos de Londres continuam a fazer-se sentir. Os bombistas suicidas são uma marca do nosso tempo. Terrível marca. As explicações multiplicam-se, mas nenhumas são satisfatórias. Não estamos perante manifestações de miséria ou de ignorância. Estamos perante convicções cegas. E se as sociedades abertas têm de preservar a diversidade de convicções, não podem deixar de garantir que a liberdade de uns não possa destruir a liberdade de outros. Eis porque o respeito é um princípio fundamental que tem de ser assegurado. Poderemos respeitar quem não respeita? Se o respeito é um valor maior, tem de prevalecer, não podendo uma sociedade aberta aceitar que haja actos ou agentes que visem destruir a convivência e o respeito. A intolerância em relação a quem não respeita os outros, decorre de um princípio incontornável de que só o respeito salvaguarda a convivência e o pluralismo. A ausência de racionalidade não tem explicações racionais. Se não sabemos as causas, falecem os instrumentos que ataquem, com eficácia, as raízes do mal. Precisamos de uma hierarquia de valores, de fronteiras entre bem e mal. Não se trata de confundir política e ética, mas de perceber que a política tem de ser limitada pela ética. E a sociedade democrática, se é a única que aceita a imperfeição como regra (“o pior dos regimes à excepção de todos os outros”, a força da liberdade como limite e não como projecto fechado), tem de partir da ideia de que se impõe criar espaços de relação, onde as convicções convivam e coexistam pacificamente. Há dias, Timothy Garton Ash dizia, com especial ênfase, que a limitação das liberdades e das garantias dos cidadãos é algo perante o que não devemos ceder. Apesar de todas as ameaças, é mais importante preservar uma sociedade aberta e livre, em vez de cair na tentação do Estado policial, que se sabe como e onde começa, mas que nunca se sabe onde acaba. E desde a antiguidade bem conhecemos os ensinamentos dos velhos sábios, segundo os quais é sempre necessário evitar a morte do paciente, pela doença e pela cura. Eis o dilema perante o qual nos encontramos. A segurança das pessoas tem de ser preservada, mas sem sacrifício da liberdade e da autonomia. Só estas permitem às sociedades encontrar antídotos que preservem a esfera individual dos cidadãos, as suas convicções, bem como o pluralismo indispensável a que a coesão social não seja destruída pelo sectarismo, pelo egoísmo, pela fragmentação e pelo imediatismo. Eis por que razão é fundamental o diálogo inter-religioso, baseado no conhecimento e na compreensão dos outros. A liberdade religiosa e a laicidade são factores de humanidade. Só criando condições para cada um optar livremente por uma fé (ou por não ter fé) e recusando as tentações teocráticas e as tiranias da virtude (que se torna ódio) poderemos abrir um espaço de respeito e de paz.  

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