Reflexões

De 11 a 17 de Julho de 2005

Londres, 7 de Julho. O terror voltou a ditar a sua lei. A memória de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque regressou, do mesmo modo que a de 11 de Março de 2004 em Madrid. Poderá alguma vez a violência contra inocentes redimir os erros da humanidade, quaisquer que sejam?

REFLEXÃO DA SEMANA
De 11 a 17 de Julho de 2005


Londres, 7 de Julho. O terror voltou a ditar a sua lei. A memória de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque regressou, do mesmo modo que a de 11 de Março de 2004 em Madrid. Poderá alguma vez a violência contra inocentes redimir os erros da humanidade, quaisquer que sejam? Naturalmente que não. Mas impõe-se que possamos interrogar-nos sobre as raízes do mal-estar e sobre os fundamentos da violência. Não importa saber, neste momento, quais os resultados exactos das investigações policiais, o que interessa é reflectir sobre a razão de ser do fenómeno. Nenhuma explicação é satisfatória. Samuel Huntington falou do “choque das civilizações”, mas o certo é que estava a pensar em conflitos entre potências e na dialéctica tradicional amigo/inimigo. Os movimentos anti-globalização insistem nas injustiças e nas desigualdades, mas os artífices do terror têm muito pouco a ver com uma revolta social. Outros chamam a atenção para a necessidade de reforçar os meios policiais e para a limitação das garantias civis, o que é errado. Há quem diga ainda que é preciso conhecer melhor as outras civilizações e outras culturas e religiões, mas do que parece tratar-se é de incompreensão e não de desconhecimento. A verdade é que quando ouvimos os inspiradores do terrorismo, como Ossama Ben Laden, o que encontramos é um velho ódio, enroupado de messianismo cego e irracional. As explicações são todas insatisfatórias. Falta entender a raiz do fenómeno. E, no entanto, ouvimos apelos à violência como se ela pudesse ser purificadora. E não se diga que se trata do fenómeno religioso e dos seus efeitos perversos. Pelo contrário, estamos perante um perigoso vazio no diálogo entre fé e racionalidade. E lembramo-nos bem do que o Papa João Paulo II fez para contrariar a tendência doentia de incompreensão e indiferença. O “espírito de Assis” procurou lançar as bases de um diálogo inter-religioso que pudesse preencher o vazio, ocupado nas sociedades contemporâneas pelo egoísmo, pelo consumismo e pelo imediatismo. E é a democracia que se ressente desse vazio de valores e princípios, que subalterniza a dignidade da pessoa humana e que torna a liberdade puramente processual. J.Habermas no diálogo com o Cardeal Ratzinger (agora publicado pela revista “Estudos” de Coimbra) põe o dedo na ferida. A liberdade religiosa tem de abrir campo a um pluralismo dialógico e vivo, que não se feche numa redoma laicista, que destrói o fundamental de uma laicidade saudável e positiva. Nenhum Deus pode fundamentar ou justificar a violência. Temos de regressar à lição de Gandhi, para quem a não-violência teria de ser posta em prática a partir de um uso adequado da vontade e da força. Eis porque o mal com que nos debatemos é mais fundo do que possa parecer. Não se resolve no Iraque. Não se resolve com mais polícia. Exige atenção e vontade.  

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