Reflexões

De 6 a 12 de Junho de 2005

Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) constitui uma das referências da ilustração e da banda desenhada portuguesas. Ao lado do talento de Fernando Bento e da popularidade de Vítor Péon, foi um dos mais prolíferos e seguros cultores da “história de quadradinhos”.

REFLEXÃO DA SEMANA
De 6 a 12 de Junho de 2005


Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) constitui uma das referências da ilustração e da banda desenhada portuguesas. Ao lado do talento de Fernando Bento e da popularidade de Vítor Péon, foi um dos mais prolíferos e seguros cultores da “história de quadradinhos”. ETC, como era conhecido, foi, na sua especialidade, o mais internacional e o mais conhecido dos portugueses além fronteiras. Como disse, há dias, João P. Boléo, E. Teixeira Coelho foi “um dos mais importantes, talentosos e apreciados autores portugueses de banda desenhada e o de maior prestígio e projecção internacional”. As aventuras relatadas por ETC são inesquecíveis e ficaram na memória de todos quantos acompanharam a produção europeia de BD. O grande sucesso deste artista, de origem açoriana, vem-lhe das capas e da produção na revista “Mosquito” (1942-1953), nos anos quarenta, ao lado de Raul Correia. Nessas pranchas são evidentes: o movimento, o dinamismo e o rigor do traço. Cavaleiros medievais, cow-boys, espadachins, desportistas, de tudo um pouco encontramos nessas capas e aventuras que hoje constituem objecto de culto. Muito pouco tempo depois do início dessa experiência, vemo-lo a assinar, também com sucesso, narrativas na revista espanhola “Chicos”. Os temas desta altura são diversificados, mas bem demonstrativos do seu talento – aventuras no Oeste americano, África e relato histórico. Sobressaem “O Caminho do Oriente” e diversas adaptações dos romances de Eça de Queirós – entre as quais “A Torre de D. Ramires”, sobre “A Ilustre Casa”. É também de autoria de Eduardo Teixeira Coelho a trilogia “As Mouras”, que se singulariza pela grande sensibilidade. Pode dizer-se que, com Fernando Bento (autor da revista “Diabrete” e, depois, do “Cavaleiro Andante”, ao lado de Adolfo Simões Muller,) é um dos exemplos de maior qualidade, em razão da exigência e da originalidade. Desiludido e desgostoso, pela falta de receptividade e pela escassa dimensão do nosso público interessado, partiu para França, primeiro, e, depois, para Itália, onde fixou residência na cidade de Florença. Aí desenvolveu uma interessante produção, que deu à estampa em publicações prestigiadas, como a revista francesa “Vaillant” (1955), com o pseudónimo Martin Sièvre. As solicitações foram múltiplas, e Eduardo Teixeira Coelho não parou, desenhando, por exemplo, a série “Ragnar, o Viking”, além de uma produção de divulgação histórica multifacetada. Em 1973, ganhou o 9º Festival de Lucca, para o melhor desenhador estrangeiro e, a partir de então, especializou-se fundamentalmente em temas históricos e ligados às armarias. Não poderemos fazer ou compreender a história da ilustração e da banda desenhada portuguesas e europeias do século XX sem recordar Eduardo Teixeira Coelho, que acaba de morrer na sua cidade de Florença.    

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