Reflexões

De 13 a 19 de Outubro de 2003

A Festa do Chiado aqui vai estar a partir de 16, ao lado da Festa na Baixa do Porto. Vamos celebrar com um programa cheio de surpresas e curiosidades! “Tumulto de formas e cores” – disse de Lisboa Jaime Cortesão, ele, homem do Porto. “Rasga-se em frente a enseada azul do Tejo”. A cidade foi sempre uma encruzilhada de culturas, capital dos Descobrimentos, ponto de partida para mil viagens. Não pode ser desprezada ou posta ao serviço de quem não compreende que a história e o urbanismo estão ligados umbilicalmente…

A Festa do Chiado aqui vai estar a partir de 16, ao lado da Festa na Baixa do Porto. Vamos celebrar com um programa cheio de surpresas e curiosidades! “Tumulto de formas e cores” – disse de Lisboa Jaime Cortesão, ele, homem do Porto. “Rasga-se em frente a enseada azul do Tejo”. A cidade foi sempre uma encruzilhada de culturas, capital dos Descobrimentos, ponto de partida para mil viagens. Não pode ser desprezada ou posta ao serviço de quem não compreende que a história e o urbanismo estão ligados umbilicalmente. Uma cidade sem memória corre o risco de se destruir. Veja-se o centro de Lisboa. Por que razão se assiste ao despovoamento? Por que razão se insiste em soluções que esquecem a natureza e as pessoas? Não basta dizer que se protege o património cultural, quando o ambiente, as tradições e a consciência ecológica são severamente ameaçados. A ideia de património vivo obriga a que a cidade seja devolvida às pessoas e que haja uma dimensão hospitaleira… Dir-se-á que as áreas metropolitanas são, por definição, opressivas e que nada poderá fazer-se para devolver à cidade uma consciência ética, estética e ecológica. Puro engano. Se há atentados, é preciso pôr-lhes cobro, formando e informando, mobilizando vontades e energias, criando o gosto pela cidade. Mudar a cidade começa por pôr as pessoas a dizer aquilo de que gostam e de que não gostam – e a fazer os cidadãos participar na tarefa de tornar a cidade mais habitável e mais hospitaleira. E, para amar a cidade, é preciso conhecê-la e vivê-la. Como pensar a cidade do futuro se esquecermos a ribeira de Valverde, o ribeirão dos Anjos, o esteiro do Tejo, a estacaria de pinho verde da Baixa pombalina, a Judiaria e Alfama, o Carmo e a Trindade, Graça e S. Vicente, a cerca fernandina, a Costa do Castelo e a Mouraria. Mas, a cidade rompeu as suas velhas fronteiras – passou o Bairro Alto, a Estrela, subiu a Arroios e ao Areeiro, abriu a Avenida da Liberdade, foi às Avenidas Novas… Hoje parece haver quem esqueça tudo isso. Mas, como ser indiferente? Como ser cego perante os pontos de vista imortalizados por Carlos Botelho ou por Bernardo Marques? Como esquecer o Rio Tejo, para o qual a cidade esteve de costas voltadas durante muitas décadas, até que Lisboa se descobriu na relação fecundíssima com o estuário – na era da 24 de Julho e da sua movida. A cidade precisa dos seus cidadãos! Cidade das Luzes? Voltaire falou da nossa cidade como símbolo de um novo tempo! Temos de voltar a compreender que Lisboa não é só a recordação do “Empório Cosmopolita”, onde chegaram os ecos do dito longínquo: “Boa ventura! Boa ventura! Muitos rubis, muitas esmeraldas” … Foi e é a cidade da poesia e das tertúlias dos cafés e de uma cultura plena de saudades de futuro. Lisboa tem de regressar ao seu centro. Lisboa tem de voltar a pensar o futuro a partir do passado. Sejamos fiéis à cidade! Recusemos o conformismo! Façamos da cultura uma marca, um sinal!


Guilherme d`Oliveira Martins

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