Reflexões

De 21 a 27 de Abril de 2003

Há quarenta anos, era uma quinta feira de Páscoa, o Bom Papa João
fez publicar a encíclica “Pacem in Terris”. Hoje, relendo esse
texto fundador de um novo tempo, que ficou designado como “aggiornamento”,
temos motivos para nos sentirmos incomodados. O programa de João XXIII
não se realizou. Infelizmente, estamos muito afastados dele. É
verdade que a encíclica iluminou fortemente o Concílio e tudo
o que este significou de renovação e de novas alegrias e esperanças…

Há quarenta anos, era uma quinta feira de Páscoa, o Bom Papa João
fez publicar a encíclica “Pacem in Terris”. Hoje, relendo esse
texto fundador de um novo tempo, que ficou designado como “aggiornamento”,
temos motivos para nos sentirmos incomodados. O programa de João XXIII
não se realizou. Infelizmente, estamos muito afastados dele. É
verdade que a encíclica iluminou fortemente o Concílio e tudo
o que este significou de renovação e de novas alegrias e esperanças.
Há muito por fazer. Não é preciso voltar ao cenário
preocupante e absurdo da cena internacional. Basta lembrar o que já aqui
dissemos em semanas anteriores, sem conclusões precipitadas. Hoje, invocamos
não um facto de há quatro décadas, mas um documento para
agora – com um forte apelo às nossas consciências. Em 1963, em
Portugal, o documento tinha outros significados – era uma chave para abrir portas
fechadas, que alguns teimavam em manter encerradas à razão e à
liberdade. E Sophia disse – “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos
ignorar”. Agora, centremo-nos, apenas, no que lá está, no
que o Papa Roncalli nos ensinou: “Fazemos (…) ardentes votos por
que a Organização das Nações Unidas – nas suas estruturas
e meios – se conforme cada vez mais com a vastidão e nobreza das suas
finalidades, e chegue o dia em que cada ser humano encontre nela uma protecção
eficaz dos direitos que provêm imediatamente da sua dignidade de pessoa
e que são, por isso mesmo, direitos universais, invioláveis, inalienáveis”
(IV). “O bem comum universal levanta hoje problemas de dimensão
mundial que não podem ser enfrentados e resolvidos adequadamente senão
por poderes públicos que possuam autoridade, estruturas e meios de idênticas
proporções, isto é, de poderes públicos que estejam
em condições de agir de um modo eficiente no plano mundial. Portanto
é a própria ordem moral que exige a instituição
de alguma forma de autoridade pública universal” (ib.). O moderno
conceito de “governação mundial” busca as suas raízes
nesta ideia fundamental. João Paulo II, exemplo de determinação,
lembrou a essência da mensagem da Páscoa da Ressurreição,
uma Paz vivida contra a morte, conceito baseado na liberdade e na justiça
– que tem de ser vivido para além das abstracções e das
dominações. Esta semana, no CNC (dia 22, às 18,30h.), invocaremos
um discípulo de Gandhi, que nos visitou há um quarto de século
– Lanza del Vasto. Será um motivo adicional para voltarmos ao tema da
Paz – não uma Paz dos cemitérios ou da ausência de responsabilidade,
mas uma Paz construída com actos concretos. Lanza disse um dia a António
Alçada Baptista: “Repara que o Evangelho não nos manda amar
a humanidade, mas o próximo. É que a humanidade é uma abstracção.
A humanidade não existe como objecto de amor”.
Guilherme d`Oliveira Martins

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