Reflexões

De 27 de Janeiro a 2 de Fevereiro de 2003

O Centro Nacional de Cultura multiplica actividades. Este fim de semana na Assembleia da República e no Jardim Botânico da Escola Politécnica, os nossos Passeios …

O Centro Nacional de Cultura multiplica actividades.
Este fim de semana na Assembleia da República e no Jardim Botânico
da Escola Politécnica, os nossos Passeios chamaram a atenção
para a necessidade da prestigiarmos o espaço por excelência de representação
da vida cívica e política do País e para a importância
da preservação de espaços onde a cidade e a natureza se encontrem,
de modo que as pessoas e os cidadãos sejam o centro das nossas preocupações.
Esta semana, no dia 31 de Janeiro, iniciaremos a tertúlia mensal, "Revista
do Mês", no CiberChiado, com entrada livre, para debater os principais
temas da actualidade, retomando o velho hábito, caído em desuso,
da conversa "à battons rompus", porque a falar é que a
gente se entende…

Na semana que terminou, morreu Françoise Giroud (1916-2003),
fundadora do "L`Express", lutadora pela igualdade entre mulheres
e homens, mulher da cultura e da escrita. A revista corporizou, nos
anos cinquenta, uma forte corrente de opinião pública
inconformista em torno de Pierre Mendès-France. Havia necessidade
de mudanças e o exemplo ético de P.M.F. atraía
muitos jovens e muitas pessoas cansadas da política tradicional,
dos arranjos, da gestão de curto prazo… Nenhuma mulher
exercera até então a direcção de um jornal
político de grande circulação. Ela foi a primeira,
e praticamente única. Nas Novas Memórias Interiores, Mauriac
dirá que o "Express soube reunir, para uma acção
comum, espíritos que tudo deveria separar, e que tudo separou
poucos anos depois. Não importa! Houve um período em que
até as dissonâncias serviam a harmonia do conjunto. Eu
dirigia-me àquele público com o qual me dou melhor: o
que resiste, que recalcitra, mas que se interroga porque compreende…"
O génio de Giroud entendeu muito bem isso e apostou muito nesse
velho homem, que tinha toda a autoridade moral, para denunciar uma política
absurda de repressão e torturas. A última página
do Express tornou-se um símbolo. Ali estavam Mauriac e o seu
Bloc-Notes, numa presença, que duraria até Abril de 1961.
F. Giroud foi uma mulher livre, um caso muito especial, uma feminista
dos combates quotidianos – sempre a dizer-nos que liberdade e igualdade
são faces da mesma moeda e que não há desafios
a que uma mulher não possa corresponder. Ela foi a melhor. Mas
abriu caminho ás mulheres comuns, através de um modo especial
de estar na vida – com grande exigência, com muito trabalho, com
atenção a tudo e interesse por tudo. Pioneira na arte
de ser.

Guilherme d`Oliveira Martins
Presidente do Centro Nacional de Cultura

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