Notícias

JOSÉ MARIANO

A notícia acaba de me ser dada e não quis acreditar. Estávamos em contacto, porque o Zé tinha-se oferecido para elaborar o programa científico das comemorações dos setenta anos do Centro Nacional de Cultura. Ele foi sempre de uma extrema generosidade. Estranhei nos últimos dias o seu silêncio. Mas tinha sempre tantas solicitações… Desde os anos setenta, foi uma presença constante no Centro e na «Raiz e Utopia». A Helena gostava muito dele. O seu entusiasmo desse tempo era a educação permanente e a qualidade na educação e na ciência para todos. Desde os movimentos estudantis, o Zé Mariano foi sempre um militante empenhado, inteligente e arguto, que nunca baixava os braços perante as dificuldades. Engenheiro, depois Físico, animador do LIP, nunca deixou de ser um cientista, sempre atento às responsabilidades cívicas.
Intransigente no método, rigoroso na análise, escrupuloso na definição dos caminhos. Quando lhe púnhamos um problema novo, dizia sempre:
«Deixa-me pensar!». A reflexão e a ponderação eram a sua marca. E pensava, e dizia e ajudava. Quanto tempo tivemos de bom convívio… Um dia demorámos horas a subir e a descer a Rua Garrett, para solucionarmos um dilema. Vários amigos passavam, e ficavam intrigados, sobretudo porque percebiam que em alguns momentos nada dizíamos um ao outro, pois era necessário que o pensamento se não perdesse.  Exaustivamente vimos todos os argumentos, nada ficou por ponderar. E a decisão foi tomada, e achámos ambos ter sido a melhor… Outra vez, ficámos num longo silêncio de sentida dor quando o nosso querido amigo Fernando Gil morreu (e ele quis que eu soubesse logo que ele teve a terrível notícia). Foi das pessoas mais inteligentes com quem convivi, e sempre beneficiei do seu bom conselho… Mas sei também que muitas vezes me chamava para partilhar dificuldades ou dúvidas. Não podemos falar do desenvolvimento científico em Portugal sem o papel insubstituível desempenhado pelo José Mariano Gago – desde a JNICT, até aos quatro governos constitucionais em que participou, numa longevidade fecundíssima. Basta vermos os resultados, as estatísticas, os progressos alcançados. Um amigo meu do país vizinho exprimiu-me um dia o seu assombro pelos extraordinários resultados obtidos, graças à persistência do Zé. Não tenho palavras mais. Não sei com quem vou agora contar para fazer o que tínhamos combinado. José Mariano, está prometido, não deixaremos de ir para frente! Um grande abraço e até à vista!

Guilherme d’Oliveira Martins

Subscreva a nossa newsletter