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MANUEL LUCENA (1938-2015)

Com o desaparecimento inesperado de Manuel Lucena ficamos sem uma das personalidades mais cultas e fascinantes da sua geração.

Figura multifacetada, com uma extraordinária vivacidade intelectual e uma grande originalidade, refletiu e estudou sobre a sociedade portuguesa em termos que permitem a compreensão dos elementos de continuidade e rutura entre o Estado Novo e a Democracia. A sua análise sobre o corporativismo é fundamental para a compreensão de como o Estado se estruturou no pós-1974, com as suas fragilidades, paternalismo endémico e dinâmicas. Do mesmo modo, é fundamental a sua ideia sobre os compromissos constitucionais da história portuguesa.

Foi sempre um democrata heterodoxo, com um percurso a merecer um estudo especialmente atento, desde a participação nos movimentos monárquicos e católicos ao exílio italiano, onde pôde tomar contacto com um laboratório de ideias e experiências, que entrava em coerência com a sua enorme criatividade e curiosidade intelectual – até ao regresso e à fugaz participação política nos anos 1979 e 1980…  

Era fascinante ouvi-lo e lê-lo, até pela sua vastíssima cultura e pela permanente capacidade de surpreender os seus interlocutores. Procurava sempre olhar um tema sob um prisma totalmente diferente daquele que outros pretendiam.

Historiador e sociólogo, foi também um estudioso das ideias. É fundamental a sua extraordinária tradução de “Moradas” de Santa Teresa de Ávila, cujo texto e notas são de uma profundidade e rigor dignos de admiração.

Jovem sócio do Centro Nacional de Cultura desde os anos cinquenta, membro da redação da revista “O Tempo e o Modo”, Manuel Lucena deixa-nos uma profunda saudade e é um dos grandes valores da cultura portuguesa contemporânea que nos deixa.

O Centro Nacional de Cultura homenageia a sua memória, e envia condolências sentidas a sua família.

 

Guilherme d’Oliveira Martins 

 

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