Reflexões

De 5 a 11 de Setembro de 2005

Cinquenta anos depois da aprovação da Convenção Cultural Europeia, o Conselho da Europa e os seus membros têm especiais responsabilidades, que assumem plenamente, no sentido de tornar a memória cultural um factor positivo de paz, de democracia, de respeito pela dignidade da pessoa humana (…)

REFLEXÃO DA SEMANA
De 5 a 11 de Setembro de 2005


Cinquenta anos depois da aprovação da Convenção Cultural Europeia, o Conselho da Europa e os seus membros têm especiais responsabilidades, que assumem plenamente, no sentido de tornar a memória cultural um factor positivo de paz, de democracia, de respeito pela dignidade da pessoa humana, de salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias fundamentais, de liberdade, de igualdade e de desenvolvimento. A iniciativa das Jornadas Europeias do Património, do Conselho da Europa constitui expressão concreta dessa vontade e desse compromisso, de modo a assegurar que os monumentos, os lugares, os bens patrimoniais, os vestígios humanos, as pessoas, as comunidades, as paisagens sejam elementos activos de conhecimento mútuo e de compreensão entre todos. Num momento em que há muitas dúvidas e perplexidades na Europa e no mundo, os cidadãos europeus são chamados a criar elos permanentes que tornem a diversidade cultural um factor de complementaridade e não de fragmentação, que permitam lançar os fundamentos de uma Europa aberta ao mundo e às diferentes culturas, mas consciente da sua própria memória, das suas pertenças e das suas raízes, baseadas numa multiplicidade de pertenças e na procura de valores comuns. Daí a importância de olhar o Património Cultural em ligação com as pessoas e as comunidades, de modo a considerar e a concretizar uma prioridade efectiva às pedras vivas, em vez das pedras mortas. Temos, no fundo, de atribuir um valor especial ao Património Cultural e à memória, como realidades que se projectam no presente e que podem contribuir positivamente para um mundo melhor. Temos de compreender a importância da pluralidade de pertenças. Temos de recusar as pertenças fechadas e totais. As casas, os lugares, as regiões, os povos, as nações têm um espírito, sempre feito de diferenças e de complementaridades. Temos, por isso, de entender o espírito dos lugares e de transformar essa compreensão num modo de nos enriquecermos culturalmente a partir do diálogo fecundo entre o que recebemos dos nossos antepassados, património material e imaterial, e o que criamos de novo – inserindo-nos na História, onde tudo afinal se transforma. No entanto, deparamo-nos com a tentação do esquecimento e da indiferença. A falta de memória histórica leva-nos pelos caminhos perigosos da repetição trágica da violência cega. Que é a decadência senão a confusão entre memória e repetição? Que é a barbárie senão a falta de memória? Tradição e modernidade são faces da mesma moeda, uma e a outra têm de se enriquecer mutuamente. E se a criação exige novidade e ruptura, a verdade é que a criação cultural e artística faz-se sempre em diálogo com a herança cultural e com o conhecimento do tempo que nos antecedeu.


 

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