Reflexões

De 6 a 12 de Dezembro de 2004

Temos de arrepiar caminho, sob pena de continuarmos a favorecer o atraso, na vez do desenvolvimento. Portugal continua a ser o remorso de todos nós – disse A. O’Neill. As sucessivas promessas de retoma, não concretizadas, nada resolveram nem resolvem. Infelizmente, tem havido mais voluntarismo e culto do imediato do que a séria ponderação dos instrumentos aptos a superar o actual impasse da economia nacional…

REFLEXÃO DA SEMANA


                                                                        De 6 a 12 de Dezembro de 2004.


 


Temos de arrepiar caminho, sob pena de continuarmos a favorecer o atraso, na vez do desenvolvimento. Portugal continua a ser o remorso de todos nós – disse A. O’Neill. As sucessivas promessas de retoma, não concretizadas, nada resolveram nem resolvem. Infelizmente, tem havido mais voluntarismo e culto do imediato do que a séria ponderação dos instrumentos aptos a superar o actual impasse da economia nacional. E quais são as suas raízes? Não se trata de razões imediatas, que se resolvam por um qualquer exorcismo imediatista. As raízes são mais fundas. A dependência ancestral do Estado, o centralismo, a burocratização, as baixas qualificações das pessoas, a aversão a assumir riscos, a insensibilidade relativamente à inovação tecnológica, a falta de uma ética de responsabilidade, a resistência a prestar contas e a uma cultura de avaliação. Sejamos claros, temos de trabalhar mais e melhor. O Estado deverá abandonar uma lógica paternalista e de omnipresença, dedicando-se, sim, a garantir a regulação económica e a qualidade dos serviços públicos. Em lugar de demonizar o investimento público, deveremos torná-lo selectivo, pondo a tónica na educação, qualificação, cultura e ciência e na coesão social. Não há tempo para malabarismos nem para o recurso a instrumentos irrepetíveis. Precisamos de aumentar o nosso produto potencial e de criar mais riqueza. Já não há tempo para ilusões, magias e palavreado. Precisamos de assumir a competição das fronteiras abertas e de ir ao encontro de novos mercados, usando as ligações históricas e culturais, como Brasil, América Latina, China, Japão, Extremo Oriente, centro e leste da Europa, Estados Unidos, Rússia…. Trabalho, competitividade, convergência, consciência social e emprego – eis do que precisamos. E as instituições? Em lugar do culto da imagem e do imediato, temos de nos preocupar com os valores e os interesses comuns. Os cidadãos têm de deixar um clima de desconfiança e de descrença. Para tanto, não bastam os gestos de ilusionismo. A Administração Pública, a Justiça e os Tribunais, a Educação, o Emprego e a Inovação têm de se reformar e, por isso, exigem mobilização de vontades no sentido da modernização e do serviço público. Falta uma ideia positiva de “regeneração”? Precisamos de lançar as bases de uma nova atitude – centrada no trabalho, no esforço, na exigência, na qualidade e no planeamento. Precisamos de um programa de metas – na produtividade, na qualificação, no crescimento, no desenvolvimento humano. Não podemos continuar a atrasar-nos em relação aos nossos parceiros. Os projectos têm de ser claros e mobilizadores – para contrariarem as inércias. É tempo de contrariar a mediocridade e o palavreado inconsequente. É fundamental que haja gente responsável, com sentido de cidadania e de futuro. Temos de mobilizar os melhores.


 


Guilherme d’Oliveira Martins

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