Reflexões

De 27 de Outubro a 2 de Novembro de 2003

A Festa no Chiado terminou. A nova edição da Primavera já está em preparação. Dez dias, duas centenas de iniciativas, dezenas de parceiros, algumas centenas de protagonistas, o comércio envolvido nas Noites do Chiado e, pela primeira vez, a ligação à Festa na Baixa do Porto – eis a síntese de algo que terá agora de se projectar para a mobilização de quem gosta de Lisboa e do Chiado (do Porto e da Baixa) a fim de que o centro das cidades se torne mais hospitaleiro e simpático para todos…

A Festa no Chiado terminou. A nova edição da Primavera já está em preparação. Dez dias, duas centenas de iniciativas, dezenas de parceiros, algumas centenas de protagonistas, o comércio envolvido nas Noites do Chiado e, pela primeira vez, a ligação à Festa na Baixa do Porto – eis a síntese de algo que terá agora de se projectar para a mobilização de quem gosta de Lisboa e do Chiado (do Porto e da Baixa) a fim de que o centro das cidades se torne mais hospitaleiro e simpático para todos. As tapeçarias de Inês Carrelhas e a pintura de Sofia Arez aqui estiveram. A literatura e a poesia marcaram lugar. João Manuel Duque interrogou-se sobre Deus na Pós-Modernidade, através de Lévinas, Ricoeur, Gadamer, e sobretudo de Nietzsche; Alexandre Melo partilhou connosco aventuras no mundo da Arte; os amigos de Carlos de Oliveira demonstraram a modernidade do autor de “Finisterra”; e Manuela Fleming partilhou uma sentida reflexão sobre “a dor sem nome” e sobre o sofrimento, permitindo um diálogo sobre a vida e os seus limites. Duas revistas de poesia – “Relâmpago” e “Inimigo Rumor” – serviram de pretexto para, num dia de muita chuva, conversarmos com Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz e Gustavo Rubim sobre duas experiências que persistem graças ao trabalho e ao espírito dos seus animadores. Não são revistas de grupo ou de geração, mas repositórios de poesia, com horizontes diversos e um objectivo comum – promover a poesia e os poetas de qualidade. Gastão Cruz recordava no último número da “Relâmpago” (nº 12, “Nova Poesia Portuguesa”) o que Fernando Pessoa dissera um dia: “chamo insinceras às cousas para fazer pasmar – repare nisto que é importante (escrevia a A. Cortes-Rodrigues) – que não contêm uma fundamental ideia metafísica, isto é, por onde não passa, ainda que como um vento, uma noção de gravidade e de mistério da vida”. Mas Manuel de Freitas (n. 1972) fala de um conceito de poesia “sem qualidades”, e recusa as “qualidades” que andaram associadas à chamada poesia moderna. Definhamento da poesia, por excesso de facilidade? Gastão afirma: «Se não quiser deixar-se arrumar no armazém das inutilidades fúteis (e não há nada menos inútil do que a poesia), uma “nova poesia” não poderá deixar de ser uma “poesia nova”…» “Relâmpago” segue a memória de Luís Miguel Nava, mas não tem escola, nem alinhamento. “Inimigo Rumor” é uma revista dupla e bifronte, portuguesa e brasileira (desde o 2º semestre de 2001). “O rumor é um barulho que corre na perspectiva do acontecimento e acontecimentos não se preparam com manifestos. Uma revista deve estar atenta àquilo que procura manifestar-se”. Afinal, a poesia é inimiga, e contudo rumor. Aqui é um espaço de mútuo reconhecimento. E a poesia é, para Herberto: “o poder de decompor e recompor a palavra do mundo, quer dizer: a realidade, embora não saibamos do que se trata, isto: poder e realidade”.

Guilherme d`Oliveira Martins

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