Reflexões

De 21 a 27 de Julho de 2003

Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003) deixou-nos. Pertenceu ao grupo de fundadores do Centro Nacional de Cultura (1945). Era uma referência moral e cívica. Inesperadamente, quando nada o faria supor, com a serenidade de sempre, ausentou-se, de mansinho. Deixou-nos saudades…

Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003) deixou-nos. Pertenceu ao grupo de fundadores do Centro Nacional de Cultura (1945). Era uma referência moral e cívica. Inesperadamente, quando nada o faria supor, com a serenidade de sempre, ausentou-se, de mansinho. Deixou-nos saudades. Todos nos recordamos do seu falar pausado e levemente gutural – com a simplicidade dos sábios. Cristão activo, sempre se empenhou em dar um testemunho de verdade e de amor. Éramos amigos e em vários momentos encontrámo-nos em intervenções cívicas e académicas. Nascido na Figueira da Foz, foi sempre um monárquico coerente e empenhado – personalista, por contraponto ao transpersonalismo e às tentações totalitárias. Foi um democrata. Tinha um espírito aberto e liberal. E seguiu, com grande coerência, uma leitura renovada do pensamento monárquico. Esteve no III Congresso de Aveiro, com a Oposição Democrática, fiel às suas ideias – como Almeida Braga ou Vieira de Almeida tinham estado com Delgado, em 1958. Se tivesse vivido cem anos antes teria estado ao lado de D. Pedro V, como esteve Herculano. E se tivesse existido no final do século XIV teria militado nas hostes do Mestre, no partido dos mesteres e do povo. HBR era, no fundo de si, um homem de valores permanentes e de fortes convicções. Lembro-me de há quase vinte anos na Rua das Portas de Santo Antão o ter ouvido falar na necessidade de ligar tradição e modernidade. Foi fundador do PPM – Partido Popular Monárquico (1974) e deputado da Aliança Democrática (1979-1983), ao lado de Gonçalo Ribeiro Telles. Foi autarca em Lisboa e em Cascais e ingressou, no início dos anos noventa, no Movimento Partido da Terra (MPT). Nos anos quarenta, fora dirigente do Centro Académico da Democracia Cristã (CADC) de Coimbra e um dos principais animadores da revista “Cidade Nova”. Nos anos sessenta, fundou a Renovação Portuguesa que participaria na Convergência Monárquica. Em 1969, candidatou-se à Assembleia Nacional, pela Comissão Eleitoral Monárquica (CEM). Há poucos dias, chamava a nossa atenção para a necessidade de não reduzir a política a uma mera técnica, pobre e defensiva… Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra (1945), frequentou a École des Chartes e o Instituto Católico de Paris, no final dos anos quarenta. Ensinou História, Filosofia e Sociologia na Faculdade de Letras de Lisboa. Dar aulas foi, aliás, uma das suas grandes paixões – ao lado do ensaísmo e da investigação. Desse afã de estudioso resultou, recentemente, o ensaio biográfico sobre Luís de Camões, onde está bem o pedagogo, e a magnífica edição comentada e anotada de “Os Lusíadas” (2002), exemplo de rigor e de probidade, mas sobretudo de um profundo amor à língua portuguesa – que nunca esqueceu e que o singularizou sempre!

Guilherme d`Oliveira Martins

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