Reflexões

De 28 de Abril a 4 de Maio de 2003

A Festa no Chiado já está em movimento. Muitas iniciativas terão lugar de 5 a 10 de Maio – com o objectivo de animar a Baixa lisboeta. É indispensável que as galerias, as livrarias, o comércio, as associações, os clubes, os restaurantes, as juntas de freguesia, a Câmara Municipal – em suma que tudo e todos se empenhem em tornar o Chiado e a Lisboa pombalina – do Bairro Alto ao Terreiro do Paço – uma zona de referência, com cada vez maior qualidade, com muita animação e segurança…

A Festa no Chiado já está em
movimento. Muitas iniciativas terão lugar de 5 a 10 de Maio – com o
objectivo de animar a Baixa lisboeta. É indispensável que as galerias, as
livrarias, o comércio, as associações, os clubes, os restaurantes, as juntas de
freguesia, a Câmara Municipal – em suma que tudo e todos se empenhem em
tornar o Chiado e a Lisboa pombalina – do Bairro Alto ao Terreiro do Paço –
uma zona de referência, com cada vez maior qualidade, com muita animação e
segurança. Estamos num lugar com histórias – povoado pelos fantasmas
acolhedores de Alexandre Herculado, de Almeida Garrett, de Eça de Queirós, de
Antero de Quental, de José Fontana, de Fernando Pessoa, de Almada Negreiros.
Mais do que um Centro Comercial, o Chiado é como Pall Mall, como Saint Germain
des Près, como Unter den Linden, como a Piazza di Spagna ou a Piazza della
Signoria – um lugar com personalidade, que tem de atrair pela capacidade de
inovar, pela força da tradição e da modernidade. O sino da nossa aldeia é o
mesmo que animou os heróis queirozianos e a inspiração pessoana. “Luísa
atravessou para os Mártires, erguendo um pouco o vestido por causa de uns restos
de lama. Parou à porta da Igreja, e sorrindo: – Vou aqui fazer uma devoçãozinha.
Não o quero fazer esperar. Adeus Conselheiro, apareça. – Fechou a
sombrinha, estendeu-lhe a mão. – Ora essa, minha rica senhora! Esperarei,
se vir que não se demora muito. Esperarei, não tenho pressa. – E com
respeito: – Muito louvável esse zelo! Luísa entrou na Igreja desesperada” –
esta uma passagem célebre de “O Primo Basílio”. Na Havaneza soube-se da derrota
de Napoleão III, no Marrare almoçava-se o melhor bife de Lisboa, no Baltresqui
havia “lunchs” desde as duas horas, na Bertrand Fontana deu a conhecer os
efeitos da Comuna de Paris – segundo a Agência Havas: – “Tudo perdido,
tudo a arder!”, no Casino Lisbonense foram as Conferências Democráticas, no
Jerónimo Martins o Azeite Herculano fez furor, no Godefroy o Artur Curvelo
comprava frasquinhos de feno para a Concha, no Grémio Literário Garrett deu a
conhecer as novidades românticas da época, Verdi poderia ter sido director do
Teatro de S. Carlos, no Largo do Directório foi concebida a República, Columbano
teve aqui o seu atelier, no Braganza e no Tavares reuniram-se os Vencidos da
Vida, em S. Roque está sepultado o grande Francisco Suarez, Almada Negreiros
proclamou o Manifesto Anti-Dantas no S. Luiz, António Sérgio, Jaime Cortesão e
Raul Proença aqui formaram os grupos da Biblioteca, Vitorino Nemésio ou Aquilino
Ribeiro encontravam-se na Bertrand, no Largo do Picadeiro era a Moraes e a
revista “O Tempo e o Modo” na Rua dos Duques de Bragança…Bebamos à saúde do
Chiado! Quantas recordações…

Guilherme d`Oliveira Martins

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